Documentário registra carreira dos Demônios da Garoa

d53.jpgSão Paulo – O grupo de samba paulistano Demônios da Garoa foi fundado em 1942. De lá para cá, já está na terceira geração de integrantes, com netos dos fundadores na composição atual da trupe, atualmente formada por Sérgio Rosa, Roberto Barbosa, Ventura Ramirez, Simbad e Isael da Silva. É tanta longevidade que entraram para o Guinness – O livro dos recordes como o grupo vocal mais antigo do mundo. No entanto, nunca foi feito um documentário sobre esse que é um dos mais representativos grupos de samba nacional, com o eterno sotaque paulistano. Para preencher essa lacuna, os cineastas Cláudia Pucci, de 29 anos, e Paulo Boccato, de 35, decidiram filmar São Paulo dos Demônios.

A idéia surgiu em 1998, mas as filmagens só foram feitas entre 2002 e 2003. Durante todo esse período a dupla foi elaborando o roteiro. ?É estranho falar em roteiro de documentário, mas fizemos mais um ensaio sobre o grupo e o que ele representa para São Paulo do que um retrato documental?, explica Boccato. ?No início, pensamos em algo jornalístico, mas ao longo desse tempo e da convivência que tivemos com eles vimos que dava para ir mais longe?, conta Cláudia.

Resolveram, então, fazer um paralelo entre a história do grupo e a da cidade. ?Eles são descendentes de imigrantes que se tornaram operários em São Paulo nas primeiras décadas do século passado?, lembra Boccato. O grupo cresceu e se formou nas ruas dos bairros operários e sempre foi muito ligado às histórias e aos casos que seus integrantes ouviam dos engraxates e dos freqüentadores dos botecos da região.

Essa idéia surgiu porque o grupo foi o porta-voz mais importante da obra de Adoniran Barbosa, que com suas primorosas letras se transformou em uma espécie de cronista musical da cidade. ?Os Demônios da Garoa transformaram as letras do Adoniran, muitas com histórias trágicas, em algo bem-humorado, divertido?, observa Cláudia. ?Saudosa Maloca, um dos maiores sucessos do grupo, é uma letra triste, mas com eles ganhou leveza e graça?, avalia.

Os Demônios da Garoa são constantemente lembrados por causa dessa parceria com Adoniran Barbosa, no entanto, os cineastas garantem que não farão um filme saudosista. ?Não estamos fazendo um resgate do grupo, até porque não tem nada a ser resgatado, eles estão na ativa e têm um público fiel?, lembra Cláudia.

O filme será recheado de boas histórias, como a do jovem de 20 anos que fez uma operação nas cordas vocais para atingir as notas altas cantadas pelo grupo. ?Colocamos esse jovem no filme, pois ele segue Os Demônios em todos os shows e seu maior sonho é tornar-se um deles?, diz Cláudia.

Os cineastas não pretendem passar o filme para película. ?O lado bom do projeto existir há tanto tempo é que houve um estouro do formato documentário, além de ter surgido com força total a linguagem digital?, explica Boccato. O cineasta lembra, também que, para o documentário, esse formato é o mais adequado. ?Com a linguagem digital, você liga a câmera e deixa rolar o tempo que for necessário, não dá para parar um depoimento no meio. Com isso, você perde o que há de mais saboroso no documentário, que é a espontaneidade?, garante Cláudia.

Além da filmagem, a cineasta lembra que cada vez mais há salas com equipamento para a projeção de filmes feitos no formato digital. ?Hoje são cerca de 50 no Brasil e a tendência é que haja cada vez mais?, completa. Os diretores pretendem terminar o longa-metragem até o fim do ano, para que o público possa acompanhar de perto a história desse grupo que é patrimônio da música popular brasileira.

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