Da caixa postal de Guimarães Rosa

Entre 1958 e 1967, João Guimarães Rosa correspondeu-se intensamente com o tradutor alemão Curt Meyer-Clason, período em que Clason transpôs para a sua língua as maiores obras do escritor mineiro, como Grande Sertão: Veredas, Corpo de Baile, Primeiras Estórias e Sagarana. O conteúdo dessas cartas virou livro, e acaba de ser lançado pela editora Nova Fronteira em parceria com a Academia Brasileira de Letras e Editora UFMG, sob o título excessivamente didático João Guimarães Rosa: Correspondência com seu Tradutor Alemão Curt Meyer-Clason (1958-1967) (448 págs. -R$ 49).

A tradução de suas obras para o alemão entusiasmava Guimarães Rosa, como ele demonstra em uma das primeiras cartas enviadas a Clason: ?Julgo esse idioma o mais apto a captar e refletir todas as nuances da língua e do pensamento em que tentei vazar os meus livros?. Das negociações iniciais ao lançamento dos livros na Alemanha, a extensa correspondência se detém sobretudo nas discussões acerca da tradução das obras.

Ao elucidar as dúvidas do tradutor, comentar as soluções propostas por ele e contrapor novas saídas, Guimarães Rosa explica minuciosamente as origens de palavras, expressões e personagens, apresentando um valioso painel do seu processo criativo. Especialistas, tradutores e todos os que se interessam pelo universo do escritor têm no livro organizado por Maria Apparecida Faria Marcondes Bussolotti a rara oportunidade de observá-lo falando de sua própria produção, e revelando segredos da sua escrita.

Paixão

As cartas também revelam a paixão de Clason pela obra do brasileiro. O tradutor, que foi preso no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, acusado de fazer espionagem para os nazistas, conheceu a literatura nacional no cárcere. Foi essa experiência que o fez escolher ser tradutor quando voltou à Alemanha. Cópias da cartas e alguns originais estavam guardados no arquivo de Guimarães Rosa no Instituto de Estudos Brasileiros da USP desde 1973, mas a maior parte estava na casa de Clason em Munique.

Voltar ao topo