‘Caminho das Índias’ mescla tradições

Uma profusão de cores quentes, culinária exótica, formas milenares, muita ostentação, devoção, mistérios e uma religiosidade à flor da pele. Caminho das Índias, novela das nove que estreia amanhã na Globo, é uma história essencialmente sensorial.

A contrastante cultura indiana é apresentada com todas as suas tradições pela autora Glória Perez, que enfoca os costumes locais através do amor proibido entre Maya e Bahuan, de Juliana Paes e Márcio Garcia. “Tenho me sentido a própria indiana. Sou fisicamente parecida com elas. Nas gravações, me perguntavam se eu era indiana. Entrei muito nesse universo, nesta cultura tão rica”, anima-se Juliana Paes.

Ambos indianos, Maya trabalha numa central de telemarketing e se apaixona perdidamente por Bahuan, um empresário de uma multinacional americana que volta à Índia à pedido de seu mestre e pai de criação, Shankar, vivido por Lima Duarte. No entanto, Maya não sabe que Bahuan é um intocável, ou seja, segundo os costumes do país, uma pessoa impura e condenada a viver à margem da sociedade. No entanto, seu pai adotivo, Shankar, é um brâmane, designação dada à casta mais alta, que são as pessoas mais aceitas na sociedade hindu. “Essa saga pelo amor proibido entre os dois mostra um envolvimento romântico, sonhador, já que não há beijos nos namoros”, explica Márcio Garcia.

Contornada por tradições quase sempre exóticas para os hábitos ocidentais, a trama pretende abordar os costumes e religiões desnudando todos os contrastes culturais. Foram gravadas cenas em cidades indianas, como Jaipur e Agra, entre palácios, templos e o estranho trânsito local, onde trafegam simultaneamente pessoas, carros, bicicletas, motos e até camelos e elefantes. “Isso foi complexo, tivemos de equacionar as cenas diante dessa livre circulação. Não podíamos fechar ruas. Fizemos as gravações com a falta de silêncio e a dificuldade de concentração”, ressalta o diretor Marcos Schechtman.

Para continuar as gravações neste mergulho entre mundos tão distintos, foram construídas três cidades cenográficas no Projac para ambientar os núcleos. A maior delas mostrará cenários do Rajastão, onde ficam as fachadas das casas dos clãs indianos da novela, como a família Ananda, encabeçada por Opash, de Tony Ramos, a casa dos Meetha, que é a família da Maya, e a casa de Shankar, de Lima Duarte.

Nas outras cidades, foram recriados parte do Rio Ganges – que faz parte dos sete rios sagrados pelos indianos que descem a cordilheira dos Himalaias – e o bairro da Lapa, no Rio, onde se passa o principal núcleo cômico da história. “O humor permeia toda a história. Vou mesclar a boemia do Rio democrático e colorido com a ostentação de Dubai e a complexa cultura indiana”, ressalta Glória Perez.

Todo o luxo de Dubai – nos Emirados Árabes Unidos – na história é o primeiro dos cenários para a ganância de Yvone, de Letícia Sabatella. A vilã que não comete assassinatos, mas arquiteta planos mirabolantes para se dar bem à custa da infelicidade alheia, se envolve com o empresário Raul, de Alexandre Borges, marido de sua amiga de infância Silvia, vivida por Débora Bloch. “Ela é uma psicopata. Um lobo em pele de cordeiro. Minha primeira personagem com desvio de caráter”, define Letícia.

Além da psicose, a autora como sempre também lança mais uma campanha social com a novela. Tarso, personagem de Bruno Gagliasso, é um jovem reprimido pelas cobranças profissionais pelo pai Ramiro, de Humberto Martins. Diante das pressões, desenvolve uma doença mental, passa por tratamentos tradicionais até ser acolhido pelo método da dra.

Nise da Silveira, renomada psiquiatra. Este será o gancho da história para a autora apresentar artistas e profissionais com doenças ment,ais e divulgar estas pessoas que ainda vivem à margem da sociedade. “Eles são os nossos intocáveis. São esquecidos, vistos como incapazes, varridos para debaixo do tapete”, salienta a autora.

Trunfos tecnológicos

Os efeitos especiais são um dos maiores atrativos de Caminhos das Índias. Tanto que a trama dirigida por Marcos Schechtman traz uma novidade bastante conhecida no cinema e que ainda não havia sido utilizada em novelas. É o “back projection”, um recurso que projeta imagens num telão com a sensação de movimento, o que permite gravar cenas que seriam externas dentro dos estúdios, como passeios de carro, por exemplo. “As interferências são discretas, o que traz mais veracidade às cenas”, valoriza Wilson Aquino, que comanda a equipe de efeitos especiais da trama.

Já na cidade cenográfica da Lapa, no Rio, a equipe de efeitos visuais, comandada por Toni Cid, será utilizado o recurso “back lot”, uma espécie de “chroma key” com mais profundidade, que permite mostrar a projeção de imagens dos Arcos da Lapa, por exemplo, por trás da cidade cenográfica. “Gravamos diversas imagens do bairro em várias horas do dia, que serão inseridas ao longo das cenas no fundo da cidade cenográfica”, explica Toni.

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