Autor de Chocolate com Pimenta lança livro de crônicas urbanas

Os três anos em que cursou História na USP explicam o fascínio de Walcyr Carrasco por tramas de época. Das seis novelas que escreveu, cinco são ambientadas em algum lugar do passado. Por curiosidade, duas delas estão no ar atualmente: Chocolate com Pimenta, na Globo, e Fascinação, no SBT. Mas Walcyr não escreve só novelas. Escreve também peças e livros. Muitos deles calcados em histórias atuais, urbanas. Este é o caso de Pequenos Delitos, que reúne 66 crônicas sobre os mais variados assuntos: como compras de mês, namoros virtuais, dietas para emagrecer… “A gula é o único pecado que vem com o castigo junto. Por isso, assim que terminar a novela, vou me trancar em um spa. Minha barriga já ultrapassou todos os limites”, lamenta o rotundo escritor, de 1,60 m de altura e 88 quilos.

Muitas das crônicas de Pequenos Delitos fazem referência à carreira de Walcyr Carrasco. Em Meu Pai”, o autor divaga sobre a importância de Seu João na sua formação literária. Foi ele quem comprou a primeira máquina de escrever do futuro escritor, quando ele tinha apenas 13 anos. “Até hoje, eu me emociono quando leio essa crônica”, confessa. Já em Vocação, fala do primeiro dos 23 livros publicados, o infantil Quando Meu Irmãozinho Nascer, há quase 15 anos. Entre os próximos projetos, Walcyr destaca o roteiro de A Menina e o Vento para o cinema. “Desde que seja legal, eu topo fazer. Só não quero fazer por fazer. Já passei da fase de fazer ‘strip-tease’ no aeroporto para chamar a atenção”, ressalta.

Antes de enveredar pela tevê, Walcyr Carrasco trabalhou como jornalista em diversos jornais e revistas, como O Estado de S. Paulo, Veja e Isto É. “Sempre tive um olho na televisão. Mas eu sabia que só vence a luta quem tem tanto prazer no que faz que é capaz de teimar até conseguir uma oportunidade”, garante. Aos 52 anos, Walcyr Carrasco já pode se considerar um vitorioso. Não por acaso, Chocolate com Pimenta alcança uma média de 35 pontos no Ibope. Pela primeira vez, ele tem a oportunidade de passar alguns dos conceitos místicos e éticos em que acredita através de uma novela. “A Ana Francisca, por exemplo, já descobriu que vingança não leva ninguém a nada”, prega o autor, adepto da Rosa-Cruz.

Das novelas que já escreveu para a tevê, Walcyr Carrasco só não guarda boas lembranças de Cortina de Vidro, sua primeira e única experiência urbana, exibida pelo SBT em 1990. “Para falar a verdade, as lembranças são péssimas mesmo!”, corrige. Toda a trama da história se passava no último andar de um imponente arranha-céu no Centro de São Paulo, nas esquinas da Faria Lima com Cidade Jardim.

Por volta do capítulo 15, Walcyr foi avisado que a produtora independente não havia renovado o contrato de locação com o prédio que servia de cenário para a novela. Conclusão: ele teria de mudar às pressas o rumo da história. O jeito foi provocar um incêndio que justificou a abrupta mudança de cenário e dizimou boa parte do elenco. “Aquele novela foi realmente trágica!”, lamenta.

Mas o reconhecimento de público e de crítica não tardou a acontecer. Em 1996, Walcyr recebeu um convite do diretor Walter Avancini para escrever uma versão de Xica da Silva para a extinta Manchete. Como era consultor de teledramaturgia do SBT, teve de adotar o pseudônimo de Adamo Angel. “O Angel fazia uma contraposição bem-humorada ao meu Carrasco”, explica. Ao término da novela, a alta cúpula da Manchete presenteou Walcyr Carrasco e Walter Avancini com viagens a Las Vegas. Na capital mundial do jogo, os dois ganharam uns bons trocados nos caça-níqueis. Com o dinheiro do prêmio, Avancini assistiu a lutas de boxe, seu esporte favorito, e Walcyr, glutão assumido, esbaldou-se com panquecas de caviar. “Se hoje sou o autor que sou, devo tudo a ele. Só espero que, seja onde for, exista uma máquina de caça-níqueis para ele brincar de vez em quando”, sorri o autor, que voltou a trabalhar com Avancini em O Cravo e a Rosa e A Padroeira, ambas na Globo.

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