Audiovisual será destaque na 29ª Bienal de São Paulo

A fronteira entre cinema e artes visuais vem cada vez mais se estreitando, a ponto de obras de artistas imersos na criação cinematográfica ou de vídeo serem um destaque na próxima 29ª Bienal de São Paulo, a ser inaugurada em 25 de setembro, com a presença de trabalhos da belga Chantal Akerman, do tailandês Apichatpong Weerasethakul, que ganhou este ano a Palma de Ouro no Festival de Cannes, na França, pelo filme “Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives”; do português Pedro Costa e do alemão Harun Farocki, como exemplos máximos. O videoartista Eder Santos já participou da edição do evento brasileiro em 1996 – e em outras bienais estrangeiras ao longo de sua trajetória.

“O vídeo demorou para entrar de uma maneira mais intensa no cenário brasileiro das artes visuais, mas como a criação do (festival) Videobrasil isso foi mudando”, diz Eder. “Não vejo muito cineasta pintando, mas muitos artistas fazendo experiências cinematográficas. A arte contemporânea abriu muito em termos de linguagem”, afirma a pintora Adriana Varejão, lembrando que o artista inglês Steve McQueen, que também participará da 29.ª Bienal, fez o filme “Hunger”. “Acho natural e tem precedentes bacanas na história da arte como a tentativa de cinema de Duchamp, mas não é novidade. Acredito que é porque tenha ficado mais barato filmar e não existe mais aquele aparato de indústria pesada, mas por outro lado, só o Matthew Barney (artista) faz produções de US$ 5 milhões”, completa Adriana.

Ficção e realidade

A cineasta belga Chantal Akerman vai exibir na 29.ª Bienal o filme em 35 mm “From the East” (D’Est), obra de cunho documental, de 1993, em que percorre o Leste Europeu, passando pela Rússia, Polônia, Hungria, República Checa e a região da extinta Alemanha Oriental. “Bem, eu queria ter mostrado meu último trabalho, Maniac Summer, mas a Bienal escolheu From the East, acredito que por sugestão da curadora Rina Carvajal”, afirma Chantal em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Nascida na Bélgica, descendente de judeus-poloneses, sobreviventes do Holocausto, a cineasta discute em suas obras questões de identidade cultural, feminina e religiosa. “Para mim, seja um filme ou uma peça, não há diferença entre o que considero questão pessoal e o meu trabalho. Sou apenas alguém que trabalha com imagens sonoras e com o silêncio e que não vê muita diferença entre documentário e ficção”, define Chantal, de 60 anos, que fez seu primeiro filme, o curta “Saute ma Ville”, em 1968. “Acredito que tudo que você faz é político, mesmo que não seja seu objetivo principal. Mas este mundo está de uma maneira que você pode sim evitar a política”, afirma ainda a cineasta, já que o tema desta 29.ª Bienal será justamente a relação entre arte e política. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.