Além da aparência

Duas mulheres com o mesmo rosto, mas personalidades radicalmente opostas. Certamente, A Outra não é a primeira e tampouco será a última novela a se inspirar no arquétipo do ?duplo?, tão comum nos romances dos Séculos XIII a XIX. Muitas outras produções, inclusive nacionais, exploraram o tema à exaustão – e a maioria com relativo sucesso. Talvez por isso o SBT acredite que não vai ?pagar mico? ao exibir a versão original da Televisa na faixa das 20h, que há anos tem sido destinada às novelas ?híbridas? da emissora – aquelas com texto mexicano, mas produção e elenco nacionais. A considerar os primeiros capítulos, pode-se arriscar dizer que a emissora não errou. Embora não venha a ser nenhum ícone da teledramaturgia, A Outra tem lá seus atrativos…

O ponto forte da novela se chama Yadhira Carrillo. A bela protagonista foi alçada à carreira de atriz depois de faturar o segundo lugar no concurso Miss México de 1994. Até 2002, ano de exibição de A Outra no México, ela havia atuado em 11 novelas, entre elas A Usurpadora e Maria do Bairro. Mas foi no papel duplo de Carlota e Cordélia que Yadhira finalmente provou que tem talento. A atriz aparece bem na fita tanto como a tímida Carlota, heroína da história que esconde sua beleza num figurino ridículo, quanto na pele da sua antagonista, a sensual, porém escroque, Cordélia.

Na história de Liliana Abud, as duas jovens são idênticas fisicamente, mas têm personalidades opostas. No destino das sósias, está Álvaro, médico vivido pelo bonitão Juan Soler. Ele se apaixona pela tímida Carlota, uma espécie de Betty, a Feia de A Outra. Só que a moça tem uma mãe megera, a ambiciosa Bernarda – que, a considerar as caretas de sua intérprete, Jaqueline Andere, parece envenenada pelo excesso de laquê em seus cabelos. Levado pela própria sogra a supor que Carlota morreu, Álvaro muda-se para outra cidade e tenta esquecê-la. É quando se depara com Cordélia – que é igualzinha à sua amada, porém bem mais ?generosa? nos decotes. Impressionado com a semelhança física de Cordélia e Carlota, ele se deixa envolver pela sósia interesseira. Cordélia, por sua vez, faz de tudo para ficar ainda mais parecida com a outra e até finge adotar o recato de Carlota.

A Outra – ou melhor, La Otra – foi escrita na década de 50, originalmente para o rádio. Há dois anos ganhou uma versão televisiva e virou sucesso no México. Tanto que faturou o título de melhor telenovela de 2002 pelo TV Y Novelas Award e passou a ser exibida em vários países da América Latina. O mérito, porém, não parece ser apenas da trama estilo ?novelão? de Liliana Abud. A produção da Televisa é bem acabada para os padrões mexicanos e não economiza nas cenas sensuais, principalmente quando Cordélia aparece. Além disso, a direção só reforça o ar de mistério que cerca a trama. Se não provar ser interessante ao longo dos capítulos, ao menos a novela prende a atenção pelo que promete mostrar das curvas de Yadhira como Carlota e de mais alguns personagens ?calientes? da trama…

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