A Arte Sob o Olhar de Djanira no MON

djanira01.jpgA exposição A arte sob o olhar de Djanira ? Coleção Museu Nacional de Belas Artes, com curadoria de Pedro Martins Caldas Xexéo e Laura Maria Neves de Abreu, relata o generoso sentido de brasilidade da artista. Aproximadamente 80 obras, provenientes do acervo do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (MNBA), entre pinturas, desenhos, gravuras e matrizes, demonstram toda a poética de Djanira (1914-1979) na representação do imaginário popular brasileiro. O público poderá visitar a exposição de 21 de dezembro a 19 de março do próximo ano.

Segundo o diretor do MNBA, Paulo Herkenhoff, ?nenhum artista jamais percorreu tantos espaços do imaginário e das festas da gente brasileira, da religião e da paisagem, das crianças e do trabalho em todos os quadrantes de nosso País como Djanira?. Herkenhoff ressalta que esta é uma das duas maiores exposições da artista já realizada em todos os tempos, envolvendo o trabalho de Djanira em toda a sua dimensão. ?Djanira foi a grande intérprete modernista do Brasil. Depois das experiências das vanguardas dos anos 20 e 30, escassa em obras, o Brasil explode na paleta de Djanira.?
  
As obras
 
A seleção de pinturas presentes na exposição inclui peças significativas da produção de Djanira nas quatro décadas de sua atuação. O curador Pedro Xexéo afirma que, ?na medida do possível?, incluiu alguns dos temas exercitados por Djanira : os temas lúdicos como o futebol, o retrato, a música popular, as atividades circenses, o teatro; a representação de pequenas unidades urbanas; a natureza morta, além das diversas atividades representativas do trabalho ?provavelmente a vertente mais vigorosa do trabalho de Djanira?. Ele ressalta que também estão presentes as famosas pinturas da artista que representam os trabalhadores das salinas, os beneficiadores de cal, os mineiros que ?laboram nas profundezas das minas de Santa Catarina e a extração de ferro em Minas Gerais?.

Retrato de Senhora, de 1942, é a obra mais antiga presente na exposição. Xexéo recorre à reflexão de Flávio de Aquino para ponderar que esta seria a obra mais representativa do período em que a pintura de Djanira era ?sombria, de tons rebaixados, sem as cores vivas e cruas que a caracterizarão por tanto tempo?,segundo a opinião de Aquino. Mas que revela, na visão do curador, a ?qualidade espiritual de sua pintura?.

Outra obra importante e emblemática da produção de Djanira é O Circo, de 1944, ?onde se aliam espontaneidade com domínio da composição?, e Caboclinhos, que proporcionou à artista o Prêmio de Viagem ao País, do Salão Nacional de Arte Moderna de 1952. O curador também destaca dois esboços preparatórios denominados Indústria Automobilística e Petrobras, ambos são estudos para os painéis decorativos do navio Princesa Isabel. A coleção Djanira, tornou-se, depois dos legados Vítor Meireles e Rodolfo Amoedo, o maior conjunto de obras de um artista brasileiro, abrigado no Museu Nacional de Belas Artes.  Xexéo é critico e historiador de arte e curador da Coleção de Pintura Brasileira do MNBA.

?Djanira nos legou uma produção artística numerosa e dentro deste universo a quantidade de desenhos é excepcional?, ressalta a curadora Laura Abreu, que se dedica ao estudo das gravuras feitas pela artista e é historiadora de arte. Segundo ela, ?o desenho era para Djanira um exercício, uma prática necessária. A obra sempre nascia a partir do desenho. O grafite, a caneta esferográfica, o crayon ou o lápis de cor sobre o papel registrava os primeiros momentos da composição, que se complementava através da utilização da têmpera a guache ou da tinta a óleo?.

Laura diz que o exercício do desenho deu a Djanira a segurança do traço. Além do desenho, a artista também fez gravuras em madeira, linóleo, metal e serigrafia, e painéis feitos em azulejos. Para a exposição, a curadora selecionou dois esboços a grafite para duas gravuras que fazem parte do livro Oratório, publicado em 1970. Outra gravura interessante é a Bananeira e Cacaueiros , cuja matriz também está exposta. Ela destaca ainda dois desenhos feitos a bico de pena: um chamado Violinista e Pianista e o outro, o desenho Sonho de Criança Pobre, cuja obra, na opinião da curadora, ilustra os momentos de dúvida da artista, que ainda ?na incerteza de qual temática explorar, se abria a influências e ao conhecimento de um novo mundo?.
 
O Brasil de Djanira

No final dos anos 30, Djanira cuidava da saúde, internada em uma clínica em São José dos Campos, interior de São Paulo, e nunca havia pintado. Segundo a curadora Laura Abreu, em uma brincadeira a artista disse que ?faria um retrato melhor do que aquele que via pendurado na parede?. Recuperada e entre várias mudanças de endereços, em 1939 Djanira já morava no Rio de Janeiro, no bairro de Santa Teresa, onde mantinha uma pensão. Foi nela que a artista recebeu o jovem pintor romeno Emeric Marcier que, em troca de pousada lhe deu aulas de pintura.

?A presença do europeu lhe trouxe o roteiro para a descoberta dos tesouros que tinham ficado esquecidos nos pálidos baús da infância (…)?, escreveu, em 1945, o crítico Ruben Navarra, amigo e grande incentivador da artista, que acompanhou o crescimento do trabalho de Djanira, lembra a curadora. Com o início da 2a. Guerra   Mundial, jovens artistas europeus vieram para o Brasil. ?Como Emeric Marcier, aqui chegaram Maria Helena Vieira da Silva, Arpard Szénes que, juntamente com os brasileiros Milton Dacosta, Carlos Scliar e outros, privaram do convívio de Djanira, em Santa Teresa?. 

Laura faz referência a uma declaração feita pela própria artista anos mais tarde: ?Comecei a pintar desenhando o mundo modesto que me cercava. Meus animais, minha varanda, o interior de minha casa, o retrato dos vizinhos. Eram estudos de observação amorosa das coisas que estimava.? De acordo com a curadora, somente em 1942 que Djanira apareceu no panorama cultural brasileiro, participando do Salão Nacional de Belas Artes e, no ano seguinte, realizou sua primeira exposição individual na Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro.

Terminada a guerra, em 1945, Djanira partiu para uma estadia de quase três anos nos Estados Unidos. ?Esta viagem lhe abriu horizontes.? Durante essa estadia, conheceu Marc Chagall, Juan Miró e Fernand Léger. ?Ela trabalhou muito, participou de exposições em Nova York, Washington e Boston. Interessou-se pela arte dos muralistas. Voltou, em 1947, para o Brasil e em seu trabalho foi flagrante o apuro da técnica.?

?De volta à minha terra pretendo viajar pelo Brasil, conhecê-lo melhor, e como meu destino é pintar, pintarei tudo o que encontrar?, declarou a artista na época, em uma entrevista ao Jornal do Brasil. Na análise da curadora, com esta declaração Djanira demonstrou que ?dissipara a dúvida que havia lhe dividido por um tempo: ou fazia uma arte surrealista romântica, como ela própria definira, ou partia para a prática de uma arte voltada para as raízes brasileiras. E a última opção foi a que Djanira abraçou.?

Uma escolha que a própria Djanira relatou: ?Quando viajo pelo Brasil, descubro que ainda tenho muito a pintar. São essas viagens que engrandecem meu trabalho. Eu não poderia viver entre quatro paredes e criar sem que meus olhos não vissem a paisagem e os tipos que retrato.?    
 
Serviço
Abertura ao público: de 21 de dezembro de 2005 a 19 de março de 2006
Onde: Museu Oscar Niemeyer
Endereço: Rua Marechal Hermes, 999
Centro Cívico ? CEP: 80530-230
Telefone: (41) 3350-4400
Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h
Preços: R$ 4,00 adultos e R$ 2,00 estudantes identificados
(Crianças de até 12 anos, maiores de 60 e grupos de estudantes de escolas públicas pré-agendados não pagam)
Solicitação de Agendamento entre em nosso site na pasta Ação Educativa, em Agendamento
www.museuoscarniemeyer.org.br 

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