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A arte do cotidiano de Erwin Wurm

Uma das primeiras One Minute Sculptures que Erwin Wurm criou foi durante um trabalho em Bremen, na Alemanha. Na época, ele pediu para funcionários da galeria interagirem com objetos comuns de maneira pouco convencional – enfiando canetas no nariz e nas orelhas, ou equilibrando um balde sobre a cabeça, por exemplo. “Às vezes, elas estão bem próximas de uma ação rotineira. A minha ideia era ver essa relação entre as pessoas e os objetos”, explica o artista, que expõe cerca de 40 obras em uma mostra, a partir desta quinta-feira, 25, no CCBB.

Mistura de performance e escultura, a série se tornou, ao longo dos últimos 20 anos, uma referência na obra do austríaco, sendo levada a museus, como o Tate Modern, de Londres, ou inspiração para a banda Red Hot Chili Peppers, no videoclipe da música Can’t Stop. “Apenas aconteceu de eu começar a fazê-las. Eu me pergunto como ficaram tão famosas”, brinca.

Entre as obras selecionadas pelo curador Marcello Dantas, as One Minute Sculptures mereceram uma sala inteira no CCBB, onde Wurm distribui objetos e deixa instruções de como usá-los. A proposta é que o visitante fique naquela posição durante 60 segundos e, assim, se torne a própria obra.

O uso de objetos aparentemente banais não se restringe à série. Segundo o artista, a escolha por esse tipo de material surgiu primeiro por questões financeiras, mas transformou-se em uma constante de seu trabalho. De roupas usadas, ele, então, passou a procurar outros objetos que estavam ao seu redor, até chegar a carros de luxo e móveis. “Com o tempo, isso me levou a questões muito interessantes sobre os hábitos sociais e tornou-se a principal preocupação no meu trabalho.”

“Wurm tem um trabalho de camadas. Ele vai chegando dentro de uma crítica social que é desconcertante para o espectador”, define Dantas. Segundo o curador, o artista busca com o humor atrair o espectador para questões contemporâneas, como o culto à imagem.

Para falar sobre padrões de consumo, por exemplo, ele transforma um Porsche em um carro com ‘sobrepeso’, em Conversível Gordo. A obesidade e o sarcasmo também estão na monumental Fat House, uma instalação interativa que ocupa quase todo o térreo do CCBB.

“Wurm utiliza o humor como uma espécie de rede para pescar as pessoas, mas, quando você olha mais ao fundo, ele vai desconcertando”, define.

Na mostra, o curador percorre a obra do austríaco com base na forma como o artista modifica a simbologia de peças tão comuns à vida contemporânea, o que inclui sua relação com alimentos. É o caso de séries como Abstract Sculptures, de 2013 e 2014, na qual Wurm toma como referência a figura de uma salsicha para produzir esculturas em bronze. Ou ainda a série Narrows, de 2015, com peças como um vaso sanitário em proporções pouco usuais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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