Teste de feminilidade do COI gera polêmica

A corredora sul-africana Caster Semenya, 21, obteve só um nono lugar nos 800 m feminino na Liga Diamante de Mônaco, última prova antes da Olimpíada de Londres.

Mesmo assim foi assediada por jornalistas. Mas deixou o estádio calada, exibindo seu corpo de características masculinas, rosto e braços similares aos de homem.

Sua reação é a de quem, de novo, se tornou o centro das atenções por conta da nova regulamentação do COI (Comitê Olímpico Internacional) para determinar quem pode competir entre as mulheres em Londres-2012.

A legislação é uma resposta do comitê à polêmica envolvendo a participação de Semenya em provas femininas, surgida quando ela foi campeã mundial desses mesmos 800 m em 2009.

Mas a discussão sobre a diferenciação de sexo no esporte só aumentou desde a publicação das regras do comitê, há cerca de um mês.

O COI decidiu não permitir que mulheres com excesso de hormônio masculino, como a testosterona, competissem no feminino já em Londres.

Ou seja, estariam excluídas as que sofrem de hiperandrogenismo, que é quando a mulher produz esses hormônios acima da média das demais de modo natural.

“Em geral, as performances de homens e mulheres diferem principalmente porque os homens podem produzir mais hormônios andrógenos do que as mulheres”, justifica comunicado do COI. Mas o comitê não definiu o limite de hormônio para mulheres.

Analisará os testes antidoping para testosterona. Se o resultado for alto, o caso será submetido a análise.

Especialistas, no entanto, atacam a regra imposta.

“O nível de testosterona entre mulheres e homens não pode ser distinguido”, defenderam as geneticistas Rebecca Jordan-Young e Katrina Kartis, em artigo no jornal inglês “The Guardian”.

A argumentação delas é que, segundo estudo do próprio COI, 5% das esportistas de elite têm níveis masculinos de hormônio. Além disso, 25% dos atletas de elite homens têm níveis de hormônio similares a mulheres.

Alegam, então, que só a testosterona do corpo não interfere no desempenho.

“O COI fez o que dava para fazer”, defendeu o fisiologista Turíbio dos Santos.

Há ainda cientistas sociais que reclamam: o COI estaria tentando classificar quem é mulher e quem é homem.

A discussão se prolonga. E Semenya passou por testes de sexo, foi suspensa, ganhou prata no Mundial-2011 até virar penúltima às vésperas dos Jogos. Sempre calada. Em uma rara entrevista, disse: “Deus me fez do jeito que sou e eu aceito.” Nos Jogos, o COI decidirá se aceita.

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