Paraná Clube dispensa mais oito. Por enquanto

A guilhotina está afiada. Oito jogadores foram dispensados e a ?lista negra? só não foi mais extensa porque o Brasileirão começa daqui a 23 dias e os reforços pretendidos estão em atividade, na reta final dos campeonatos estaduais. Para não correr o risco de ficar sem um time para a estréia frente ao Goiás – no dia 23 de abril, no Pinheirão – o clube segurou dezoito jogadores, mas muitos deles podem não ?emplacar? o Nacional.

Neste processo de reformulação, não houve nenhuma ausência na reapresentação. Os dezoito atletas relacionados pela comissão técnica iniciaram ontem as avaliações físicas sob a supervisão de Wiliam Hauptman. Se a ?chapa está quente?, qualquer deslize pode ser fatal. Ainda mais para um time que não conseguiu sequer chegar às quartas-de-final do campeonato paranaense.

A má campanha foi determinante para a dispensa de oito jogadores. Giuliano (lateral-direito), Juliano (zagueiro), André Pastor, Hideo e Altiere (meias) e Marlon, Giba e Maranhão (atacantes) só passaram pela Vila Capanema para ?limpar seus armários?. Uma situação previsível diante da qualidade dos reforços contratados pelo Paraná Clube, que segue montando e desmontando times a cada torneio.

O processo de ?reconstrução? foi iniciado ontem, mas de forma tímida. O clube anunciou os dois primeiros reforços para o brasileiro. Os jogadores vêm do interior paulista, principal fonte de recursos na avaliação dos dirigentes paranistas. Como em anos anteriores, nomes de pouca expressão e que sequer estavam na mídia, pois disputam a Série A-2 (a segundona de São Paulo). O atacante André Dias (23 anos) e o lateral-direito Diego (18) vêm do Mirassol. Os nomes foram escolhidos em consenso por diretoria e comissão técnica.

Como no ano passado, o Paraná passa a deter 20% dos direitos econômicos dos atletas no caso de futuras transações. André Dias, formado nas categorias de base do Santos, já esteve no Lokomotiv de Moscou, mas no Mirassol não fez um gol sequer. Já Diego é uma promessa do clube paulista, onde iniciou carreira. ?Temos boas referências desses jogadores, que inicialmente vêm para compor o grupo?, explicou o vice de futebol José Domingos.

O clube continua negociando com vários clubes do interior paulista, já que o volume de reforços pretendidos é grande. Pela avaliação da comissão técnica, o Paraná precisa de pelo menos oito jogadores prontos para assumir condição de titulares. Resumindo: o clube só não tem carências quando o assunto é goleiro (Flávio e Darci) ou lateral-esquerdo (Vicente e Edinho). Além deste quarteto, outra peça imprescindível é o atacante Renaldo. Se a ?guilhotina? será novamente usada antes do brasileiro, só esperando para ver.

Entrevista

O técnico Lori Paulo Sandri assumiu o Paraná Clube num momento de turbulência no Campeonato Paranaense. Mesmo sem muitos recursos – o elenco já estava fechado – conseguiu resultados que livraram o clube do risco de rebaixamento. Foram seis jogos, com duas vitórias, três empates e uma derrota. Com a proposta de estruturar o time, sabe que precisará de reforços para encarar o Brasileiro, onde o desafio inicial é segurar o Tricolor na primeira divisão. O treinador fala de seus planos e dos riscos de se apostar em um ?time de aluguel?.

Paraná-Online: A intertemporada começa e o clube conta com somente 19 jogadores e busca reforços. O que se pode esperar do Tricolor na largada do Brasileiro?
Lori Sandri: Teremos muitas dificuldades no início da competição. Não houve estruturação anterior ou programação para o que poderia acontecer neste momento. No Estadual houve um desgaste muito grande de alguns jogadores. A diretoria precisou repensar e redirecionar o trabalho.

Paraná-Online: Você vetou jogadores para período de testes. O seu grande desafio é fazer com que o Paraná deixe de ser um time de aluguel?
Lori: Hoje, no futebol brasileiro, muitos clubes são considerados de aluguel. Clubes que em dois, três meses montam uma equipe, fazem um trabalho relativamente bom, mas não conseguem segurar o jogador por falta de estrutura para a continuidade. O que se vê é o sobe-e-desce dessas equipes, sempre ameaçadas de rebaixamento. Isso traz uma instabilidade ruim para o torcedor e para a direção, o que compromete a estrutura. As equipes do futebol brasileiro que mantêm uma estrutura são as que estão se dando bem.

Paraná-Online: Você já viveu situações parecidas em muitos clubes. Há algum diferencial que lhe dê confiança no que o Paraná poderá desenvolver no Brasileiro?
Lori: É preciso esperar a montagem do grupo. A intenção da comissão técnica e da diretoria é montar uma equipe capaz de fazer um grande papel no Nacional e que consiga se manter na primeira divisão. Por isso, nosso foco tem sido quase que exclusivamente o interior paulista. É onde se encontra jogadores de boa qualidade e não tão caros. Se fizermos uma seleção de quatro ou cinco clubes, como Ituano, Paulista, América, Rio Branco, teremos um time forte.

Paraná-Online: O conjunto é fundamental. Como esperar esse entrosamento de um time que será formado às vésperas da competição?
Lori: É sempre bom lembrar da nossa seleção. Mesmo com os maiores craques do futebol mundial, não se tem um conjunto, não se vê harmonia. Por isso, clube algum, independente da qualidade do elenco, vai conseguir esse entrosamento em um curto espaço de tempo.

Paraná-Online: A saída seria trazer jogadas prontas, como dois zagueiros ou dois volantes que já atuam juntos por outras equipes?
Lori: Isso seria importante, mas depende do andamento das transações. Há tempos, a seleção usava desse recurso, com meio time do Flamengo, do Botafogo… E o resultado no conjunto acabou sendo melhor. O importante é trazer qualidade. E se os jogadores já atuarem juntos, melhor. Como no início da competição teremos rodadas apenas nos finais de semana, o Paraná e muitas outras equipes terão tempo para se ajustarem. Dos 22 times da Série A, só sete ou oito, se tanto, estão com seus grupos formados.

Paraná-Online: A cada início de Brasileiro o Paraná é apontado como favorito ao rebaixamento. Tem como eliminar esse rótulo?
Lori: Tem. É um trabalho de longo prazo e que começa pela criação de uma estrutura. É só ver a evolução do futebol paranaense, onde o Paraná ficou para trás. Independente de ficar na primeira divisão, na segunda, ou ser o campeão do ano que vem, o primeiro objetivo deve ser a estruturação do futebol do clube. Enquanto isso não ocorrer, não posso responder à sua pergunta.

Paraná-Online: Nesse processo, é primordial a montagem de um centro de treinamentos?
Lori: São vários aspectos a serem trabalhados em uma equipe. Se você tem muito dinheiro, nem de um campo de futebol você precisa. Mas, sem dinheiro, você tem que ser formador. São dois caminhos distintos. Temos exemplos claros no Estado. Quando trabalhei no Atlético, não havia estrutura alguma. Uma década depois, é um dos maiores clubes do País. Vão se manter no topo equipes que tiverem essa visão. Quem não se estruturar ficará nesse sobe-e-desce constante.

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