Na boleia, mas sempre torcendo pro Tricolor

O senhor Carlos Evangelista, 55 anos, talvez não seja o mais fanático torcedor do Paraná Clube. Mas, desde a fusão que marcou o início do Tricolor, ele viajou por todo Estado pra acompanhar aquele que se tornou seu time do coração. Também fez isso ontem. Desceu a serra até Paranaguá, onde vai assistir o Paratiba.

Apesar de torcer sem exageros, sair de casa pra ver futebol é algo normal para Seo Carlinhos – como é conhecido no reduto paranista. Afinal, ele é o motorista “oficial’ do time da Vila Capanema.

Como a família de Carlinhos não é de colorados e tão pouco de pinheirenses, o motorista tricolor nasceu atleticano. Mas depois de ver o “novo” clube passar por tristezas e alegrias, além de reconhecer seus bons feitos no trabalho, não teve como: “Comecei a torcer pro Paraná. Estou até hoje torcendo”.

Tudo começou quando Evangelista ainda era o motorista oficial do futsal e das categorias de base. Dirigindo para jovens até então desconhecidos como Ricardinho, que passou por França, Inglaterra e hoje segue no Atlético-MG, e Tcheco, atualmente no Corinthians-SP, jamais se importou com as brincadeiras da piazada do futsal. “A gente se criou junto, como se fosse uma família”.

Anos depois, Carlinhos acompanhou esses mesmos garotos ganhando oportunidade na equipe profissional. Em 1996, Ricardinho marcou gol no Paratiba, o Tricolor tornava-se campeão paranaense e o motorista não conteve a emoção. “Fiquei feliz, pois o piá era gente boa pra caramba. Eu tava junto lá no Couto, torcendo. Depois do jogo, eles convidaram eu e minha família pra ir até o restaurante comemorar. Aquela alegria, né”, recorda.

Feliz da vida ao falar dos bons momentos com o garoto que conheceu “anônimo’ e hoje está famoso, ele faz questão de citar a história de uma viagem do Tricolor até Londrina, norte do Estado. “Eu estava na cabine do ônibus, dirigindo. Aí sempre ficava por lá o Tcheco e o Ageu. Descendo a Serra do Cadeado, a turma pedia pra parar na beira da estrada: “Vamos comprar uma gamela de colocar carne’. Aí aparecia o Ricardinho. “Pô, mas já estão falando de mim’. E todos se partiam de dar risada”, conta, lembrando do antigo apelido do jogador.

Hoje, as coisas mudaram um pouco na Vila. Seo Carlinhos encontra um pouco mais de dificuldade no entrosamento com todo elenco. Não existem mais tantas crias da gralha como antigamente e o grupo constantemente muda. Mas ainda existem as boas amizades. “Um exemplo é o João Paulo, o que mais converso. Ele é muito gente fina”.

Se a situação do Paraná hoje é um pouco mais complicada que a dos bons momentos de seo Carlinhos no clube, a vida continua.

E a paixão do motorista pelo Tricolor também. “O time está meio nervoso ainda. Mas vai entrar no eixo”, diz ele, antes de completar sobre o clássico de hoje, contra o Coritiba: “Esperamos a vitória. Não tem alternativa”.