Endividado, Flamengo contrata “timaço”

Rio (AE) – O Flamengo não depende apenas da contratação de bons jogadores para atenuar uma crise de mais de uma década e que se agrava a cada dia. Na tarde de sexta, o presidente do clube, Márcio Braga, circulava pelo centro da cidade com uma missão específica: reunir-se em vários escritórios de advocacia a fim de defender os interesses do Rubro-Negro. “A saída para o Flamengo é simples: montar um baita time de advogados”, afirmou, enquanto atendia a uma chamada no celular.

Naquele instante, o dirigente acabava de ser informado sobre novas ações contra o clube – que totalizariam cerca de R$ 11 milhões. Essa tem sido a rotina da diretoria do Flamengo, o mais popular do Brasil: administrar um deficit mensal de R$ 2,5 milhões e uma dívida em torno de R$ 230 milhões – em dezembro de 2003 a quantia era de R$ 216 milhões, de acordo com a última auditoria realizada no clube.

Um eventual rebaixamento à segunda divisão do campeonato brasileiro – ocupa o último lugar na competição -, arranharia a história do Rubro-Negro e o deixaria, mais ainda, sem perspectiva. Por isso, numa atitude de extrema aflição, Márcio Braga contratou o atacante Dimba para conseguir livrar o Flamengo do descenso. Aplicou R$ 1,5 milhão, dinheiro recebido à vista pelo atleta, com a garantia de um salário mensal de R$ 60 mil. “Eu sei que agravei seriamente o orçamento do clube. É mais fácil criar o problema agora, do que solucioná-lo na segunda divisão”, resignou-se o dirigente.

O fato despertou reações de outros setores do clube. Mas seguiu a lógica de quem teve de abandonar velhos preceitos para tentar salvar o Flamengo. Adversário do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, a quem sempre acusou de ser um dos principais responsáveis pela situação de falência dos clubes brasileiros, Márcio Braga cedeu ao assédio do ex-desafeto e obteve empréstimos para o Flamengo. O primeiro foi liberado em maio, no valor de R$ 576 mil, a título de antecipação de cotas da Copa do Brasil. O outro, de R$ 1,5 milhão, acaba de entrar (e sair) dos cofres da sede da Gávea. Serviu para pagar salários atrasados.

O distúrbio financeiro aumentou com a decisão da Petrobras de suspender o pagamento de R$ 1 milhão por mês, conforme reza o contrato com o Flamengo, até que as dívidas do clube com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e a Receita Federal fossem saldadas. O dinheiro do patrocinador deve voltar a ser depositado na conta do Rubro-Negro em breve. Mas, antes, parte da quantia retida – hoje em R$ 7 milhões – será revertida para a União.

Envolto com credores e ações trabalhistas, o Flamengo faz o possível em busca de recursos. Fechou contrato com a Prefeitura de Volta Redonda para levar o time 16 vezes a cidade, durante o campeonato brasileiro, ganhando R$ 100 mil líquido por jogo. O prejuízo foi técnico – perdeu quatro partidas, empatou três e venceu somente duas. “Ano passado, no Maracanã, recebemos livre de despesas R$ 198 mil por todo campeonato. Portanto, são R$ 198 mil contra R$ 1,6 milhão”, defende Márcio Braga.

O histórico do caos em que foi lançado o Flamengo é relativamente recente. Em 1994, o clube devia cerca de R$ 19 milhões. Em dez anos, o volume cresceu de forma impressionante. “Estamos em uma empresa que vive em estado de insolvência”, admitiu Márcio Braga, sem, no entanto, perder a esperança na recuperação – dentro de campo, com Dimba, e fora dele, com os advogados.

Voltar ao topo