Desprezado em casa, Jô é estrela na Rússia

São Paulo – O atacante Jô é sucesso na Rússia. Em sua primeira temporada no CSKA de Moscou, ano passado, ele marcou 22 gols, superou o frio de até 25 graus negativos e conquistou a simpatia e o respeito de dirigentes e torcedores. Na semana passada, sob temperatura de 6 graus abaixo de zero, Jô, 19 anos, começou o campeonato russo com o pé direito, marcando um dos gols do CSKA na vitória por 3 a 1 sobre o Rubin.

Seu contrato com o clube russo vai até 2011 (comprado por US$ 5 milhões – cerca de R$ 11 milhões) e tão cedo ele não pensa em voltar ao Brasil. Do Corinthians, só tem gratidão, mesmo após ter sido ?esquecido? com a chegada da MSI e de seus bambambãs, como o argentino Carlitos Tevez. Por telefone, de sua casa em Moscou e meio apressado para sair, Jô concedeu a seguinte entrevista à Agência Estado.

Agência Estado – É raro um brasileiro se dar bem em sua primeira temporada na Europa, sobretudo numa fria Rússia. Como você conseguiu essa façanha?
– Primeiro, fiz questão de trazer meus pais para Moscou. Eles ficaram comigo quase o ano todo. Sabia que precisava vencer e tentei colocar isso na minha cabeça. Nada me atrapalharia, nem mesmo o frio. Os outros brasileiros do CSKA, como Vágner Love e Dudu Cearense, também me ajudaram muito.

AE – E logo veio o reconhecimento…
– Estou muito feliz por isso. Em minha primeira temporada, ganhei o prêmio de melhor jogador do CSKA, uma honra ser lembrado na festa do clube. Vencemos a Liga.

AE – Você mudou sua forma de atuar? Anda fazendo mais gols…
– Mudei completamente a forma de jogar. Antes, eu saía da área para buscar jogo, caía pelas laterais. Hoje, jogo fixo na área. A bola vem e eu mando para o gol. Fiz 22 gols no ano passado, e já tenho três nesta temporada, contando o campeonato russo, a Copa da Rússia, que a final foi lá em Israel e eu fiz dois gols, e a da Uefa. Fazer gols é sempre bom. O mundo inteiro vê e você começa a ser falado, reconhecido nas ruas.

AE – Você já dá autógrafos, tira fotos com torcedores russos?
– Sempre que saio de casa, encontro torcedores. Mas o assédio é bem menor. Acho que tem a ver com o frio. As pessoas são reservadas.

AE – E como você faz para superar temperaturas bem abaixo de zero?
– Não é fácil. Já joguei com 25 graus negativos. Sabe o que é isso? É um frio danado. Usamos camisas especiais, malha por baixo, luvas e até calça térmica. Há ainda um gorro para as orelhas. Mas o pior passou.

AE – Você vive bem em Moscou?
– Moro hoje com minha noiva e com dois amigos. Aqui tem de tudo. Há mercados em que você encontra todo tipo de comida. Moro num apartamento no centro de Moscou. Dirijo meu próprio carro num trânsito pior que o de São Paulo. Vou a boliche e a shopping. Ando de kart. E acompanho os jogos do Corinthians pelos canais internacionais.

AE – Você acha que foi descartado pelo Corinthians? Com a chegada da MSI você foi para o banco e jogou pouco.
– Subi cedo, com 16 anos, por necessidade. O clube foi praticamente obrigado a me puxar para o profissional. Vivia uma fase complicada. E eu tive bons e maus momentos lá. Quebrei o tornozelo e fiquei fora por um bom tempo. Mas acho que saí na hora certa. Ganhei experiência e maturidade. Poderia ter ficado mais dois anos lá, mas veio a MSI e ela trouxe bons reforços. Os pratas da casa são sempre deixados de lado, em todos os clubes. Mas não posso reclamar de nada.

AE – E em um ano o Jô virou destaque no CSKA e mandou o famoso Vágner Love para o banco…
– Isso não é verdade. Eu e o Vágner Love somos os atacantes do time. Ambos somos titulares, ele com a camisa 11, e eu com a 10.

AE – Você já teve proposta para sair?
– No ano passado, chegou uma informação extra-oficial de que a Juventus, da Itália, estava interessada em me contratar. O CSKA teria pedido 12 milhões de euros (R$ 32,4 milhões). Mas não deu em nada. Espero cumprir meu contrato ou ser negociado para outro país da Europa em condições boas para todo mundo, para mim e para o CSKA.

AE – E seleção brasileira? Você tem idade para disputar os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
– Penso muito em seleção brasileira. Estou fazendo gols e isso pode me ajudar. Sei também que o técnico Dunga está olhando para o CSKA. Ele tem chamado o Dudu Cearense e o Love, o que prova que está olhando para a Rússia também.

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