Coritiba teve que mostrar força jurídica em 2010

Para que o Coritiba desse a volta por cima em 2010, praticamente dois times precisaram ser montados. Um deles entrou em campo antes da bola rolar e não usou chuteiras para vestir as cores do Verdão. Trata-se do time dos advogados do clube, que atuou para defender o Coxa do maior castigo já imposto a um time de futebol brasileiro.

Logo após as cenas de invasão e violência ocorridas em 6 de dezembro de 2009, coube a um grupo de 17 doutores da bola a missão de provar que o Coritiba não era o culpado pelos incidentes. Apesar das provas de que o presidente Jair Cirino dos Santos havia pedido reforço no policiamento à Secretaria de Segurança Pública do Paraná dias antes do jogo contra o Fluminense, o clube recebeu punição exemplar no cenário nacional.

Foi então que o grupo de advogados liderados por René Dotti entrou em ação. Em conjunto com o diretor jurídico do Coritiba, Gustavo Nadalin, o renomado jurista transformou seu próprio escritório em QG da defesa coxa-branca.

Lutar pela redução de pena e multa no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) foi uma atitude dramática, conforme explica René Dotti. “Dias após o 6 de dezembro, o procurador do tribunal estava falando em pedir pena máxima de 30 partidas. Aquilo criou uma resistência, pois era desproporcional em relação a outros julgamentos do próprio tribunal. Cito como exemplo Salvador, onde a arquibancada caiu, morreram pessoas e o clube mandante teve apenas três jogos de pena”, ressalta.

Pela proporção dos fatos, Nadalin destaca a importância do grupo para o Coritiba. “Foi a maior pena da história do futebol brasileiro, o maior trabalho desenvolvido por advogados na esfera esportiva e a maior redução de pena conseguida em um tribunal nacional”.

Os fatos ao qual Nadalin se refere são as penas de 30 mandos de jogo e multa de R$ 610 mil aplicadas ao Coritiba pelo STJD. Posteriormente, porém, a defesa alviverde conseguiu reduzir as penas para 10 mandos de campo e multa de R$ 5 mil.

“Foram momentos difíceis”, pontua Dotti, citando a maneira descontextualizada pela forma que parte da imprensa nacional tratou o assunto, lembrando inclusive a falta do direito de resposta por parte de um renomado jornalista de São Paulo, que se recusou a receber o vice-presidente alviverde, Vilson Ribeiro de Andrade. “Foi um momento triste”.

Apesar das dificuldades, a trajetória dos advogados é vista como vitoriosa. “A forma como terminou foi emblemática, com o STJD não aceitando nosso último recurso. Juridicamente a gente poderia conseguir até a absolvição do clube”, ressalta Nadalin.

Para o vice-presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, a atuação dos advogados foi predominante para que o clube conseguisse o acesso dentro de campo. “Foi um trabalho brilhante comandado pelo professor René Dotti, extremamente positivo para o clube”.

Saga nos tribunais vai virar livro

A trajetória dos advogados que defenderam o Coritiba no Superior Tribunal de Justiça Desportiva deve virar livro. O responsável pela obra será o próprio René Dotti, líder jurídico da defesa do Verdão, ex-diretor e conselheiro do clube.

René Dotti pretende batizar o livro com uma sátira ao tratamento recebido pelo Coxa no STJD: “Por que acredito em lobisomem”. “O título significa o absurdo da decisão, o quanto ela foi injusta”, explica.

No livro, Dotti pretende contar os bastidores do caso que começou logo após os incidentes de 6 de dezembro de 2009 e terminou apenas em setembro deste ano, quando o Coxa retornou ao Couto Pereira. “Foram muitas horas de reuniões, inclusive em finais de semana. Considero tudo isso como uma grande iniciativa de colegas, sem nenhum interesse financeiro, que resolveram trabalhar em nome do Coritiba e do futebol paranaense”.