Contra a “maldição de Interlagos”

Quando alinharem para as 71 voltas do GP do Brasil no próximo domingo, os três brasileiros que disputam o Mundial de Fórmula 1 estarão carregando sobre os ombros a responsabilidade de acabar com o que já se chama de “maldição de Interlagos”. Afinal, desde 1994 que nenhum piloto do país marca sequer um ponto na prova disputada em São Paulo.

Já se vão nove anos dos últimos pontos anotados por um brasileiro na sua corrida caseira. Foi o quarto lugar de Rubens Barrichello, então na Jordan, em 1994. Naquela prova, as esperanças do público que lotou Interlagos estavam depositadas no carro número 2 azul e branco pilotado por Ayrton Senna. Finalmente na Williams, equipe que cortejou por dois anos, o tricampeão era o maior favorito à vitória na prova que abria a temporada. Rodou. Michael Schumacher, na época defendendo a Benetton, venceu.

Barrichello já disputou o GP do Brasil dez vezes. Só conseguiu chegar ao final na de 1994. No mais, uma série de fracassos e frustrações. Em 1993, seu ano de estréia na categoria, quebrou o câmbio. Em 1995, a mesma coisa. Em 1996 a torcida até que acreditou em algo especial. Rubens largou na segunda posição do grid, mas rodou quando tentava passar Schumacher brigando pela terceira colocação.

Em 1997 e 1998, na Stewart, duas quebras. No ano seguinte, ele fez uma de suas melhores corridas no Brasil, pelo mesmo time. Largou em terceiro e assumiu a liderança da prova logo no começo. Foram 23 voltas na ponta, mas a euforia do público terminou quando ele encostou com o motor quebrado.

Em 2000, já na Ferrari, Barrichello viu o autódromo pintado de vermelho por uma torcida ansiosa com a volta de um brasileiro a uma equipe grande. Pane hidráulica, abandono. Em 2001, drama antes da largada. Seu carro quebrou quando se dirigia aos boxes, ele teve de voltar correndo a pé para pegar o reserva, e acabou batendo em Ralf Schumacher nas primeiras voltas. No ano passado, o carro traiu Rubens mais uma vez. Era líder, embora com uma estratégia diferente da de Schumacher, quando nova pane hidráulica o tirou da corrida. Ele vinha bem, depois de largar em oitavo.

De 1994 para cá, passaram pela F-1, defendendo o Brasil, 8 pilotos. Os melhores resultados foram um 9.º lugar de Zonta em 2000 (BAR) e outro 9.º de Marques (Minardi) em 2001.

Brasileiros com agenda cheia

O GP do Brasil de Fórmula 1 já começa hoje para três dos quatro pilotos brasileiros envolvidos na competição. Rubens Barrichello e Felipe Massa, da Ferrari, estão escalados para a coletiva de imprensa promovida pela Bridgestone e Cristiano da Matta, da Toyota, participa da inauguração da pista de testes da montadora em Indaiatuba, localizada a cerca de 100 quilômetros de São Paulo. Ontem o inspetor de segurança da Fórmula 1, Charlie Whiting, esteve em Interlagos e disse “ter encontrado o autódromo em condições melhores que no ano passado.”

Durante muito tempo, quase tudo o que se exigia de um piloto de Fórmula 1 era que fosse veloz e nos fins de semana de corrida se apresentasse para as provas. Hoje, a agenda desses profissionais é bem mais extensa fora das pistas que nos próprios circuitos. Quando Mika Hakkinen anunciou que abandonaria a Fórmula 1, no fim de 2001, afirmou que sua maior satisfação seria acordar e não receber a agenda do dia. “Ficava me questionando como cumprir tantos compromissos promocionais”, disse. A Fórmula 1 e todo esporte ultraprofissional hoje, como o tênis, é assim. Barrichello terá de abordar na entrevista questões polêmicas, como a inteferência das novas regras na falta de resultados da Ferrari.

Entre hoje e amanhã os demais 17 pilotos que irão disputar a terceira etapa do Mundial desembarcarão em São Paulo. Enquanto eles não chegam, suas equipes e os organizadores do evento aumentam o ritmo de trabalho nos boxes do autódromo, montando as 480 toneladas de equipamentos transportadas por quatro aviões Jumbo. Charlie Whiting viu ontem algumas das obras que solicitou ainda depois da última edição da prova, como o recapeamento das seções mais onduladas do asfalto, a exemplo da área do Lago.

O delegado de segurança realiza a inspeção final quinta-feira, ao mesmo tempo em que o médico-chefe da Fórmula 1, Sid Watkins, confere as instalações do centro médico de Interlagos, considerado um dos mais bem equipados do calendário, mantido pelo Hospital São Luiz e dirigido pelo doutor Dino Altmann.

Os chefes de equipe terão uma supresa este ano em Interlagos. Foram construídos reservados para cada uma das 10 escuderias existentes. Interlagos era o único autódromo que não as possuía, o que as obrigava a criar divisórias dentro dos boxes, tornando tudo muito apertado. “Com as novas regras, os espaços exigidos pela Fórmula 1 aumentaram consideravelmente”, disse o diretor de prova, Carlos Montagner, ainda quando as obras se iniciavam. “Agora, por exemplo, os carros ficam em regime de parque fechado de sábado para domingo.” Os boxes 1 e 2 foram transformados em parque fechado.

Senna

Os fãs do piloto têm a partir de amanhã a oportunidade de acompanhar a exposição “Tributo a Ayrton Senna”, no hotel Hilton São Paulo Morumbi. A mostra celebra os 10 anos da última vitória brasileira no GP do Brasil, conquistada por Senna, em Interlagos, quando competia pela McLaren.

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