Brasileiros, decepcionados, acatam decisão de cancelamento

A Amaury Sports Organization (ASO), empresa responsável pela realização do Rali Dakar, estima que pode ter um prejuízo de aproximadamente 50 milhões de euros (cerca de R$ 129 milhões) com o cancelamento da tradicional prova de automobilismo.

O alto valor deve-se ao fato de que a empresa terá que reembolsar não só todos os participantes do rali, como também os patrocinadores e as cidades envolvidas.

?Ainda não entramos em termos econômicos pois, primeiramente, estamos trabalhando em termos logísticos. Esta é a primeira vez que o Dakar é cancelado. Mas será necessário que olhemos os contratos e os termos de cancelamento?, disse Patrice Clerc, presidente da ASO, ao jornal francês Le Monde.

Brasileiros comentam

?Recebemos a notícia com muita tristeza, principalmente ao olharmos o semblante dos pilotos novatos. Mas sabemos que a decisão foi acertada, pois correr determinados riscos não vale a pena. Em minhas vinte participações no Dakar já vivenciei momentos complicados no meio do deserto. Um deles, ocorrido em 1991, foi a morte de um piloto de caminhão por uma rajada de metralhadora no Mali, país que fica ao lado da Mauritânia. Nós, competidores, imaginamos que possa acontecer algum acidente na própria competição, mas não algo exterior a ela, como o terrorismo?, explica André Azevedo, piloto de caminhão da equipe e que faria a sua 21.ª participação na prova.

Outro estreante do Rali Dakar, João Franciosi, comentou o cancelamento da prova. ?É desanimador. Nosso carro (Mitsubishi Pajero Full) estava muito bom, meu entrosamento com o navegador Lourival Roldan também, e saber essa notícia um dia antes do rali foi arrasador?, afirmou.

Rodolpho Mattheis, que faria sua estréia na categoria motos, teve que adiar seu sonho de participar do rali. ?Estou muito triste. O Dakar ser cancelado justo na minha primeira vez é muito chato.?

Africanos são os mais prejudicados

O efeito dominó com o cancelamento da edição de 2008 do Rali Dakar por causa do temor de atentados terroristas já começou. Os prejuízos não serão somente dos organizadores do evento, mas, principalmente, dos setores ligados ao turismo nas áreas onde passaria a caravana da competição. Serão produzidos efeitos importantes, sobretudo ligados à exploração dos complexos hoteleiros. ?Alguns vivem do rali e isto constitui para o setor um forte golpe?, afirmou o secretário permanente do Sindicato da Indústria Hoteleira do Senegal (SIHS), Moustapha Kane.

Segundo o dirigente, o cancelamento foi ?uma ingrata surpresa? que vai prejudicar diversos setores. ?Economicamente, o Dakar origina ganhos importantes não somente para os hoteleiros como para os artesãos?, ressalta Kane.

Nenhum país, no entanto, foi mais prejudicado com o cancelamento do rali do que a Mauritânia, pivô da decisão, depois que quatro turistas franceses e três militares locais foram mortos em ações de supostas represálias à presença estrangeira na ex-colônia francesa, de maioria islâmica.? Os investimentos do Estado na competição são insignificantes, mas no plano de promoção da Mauritânia como destino (turístico), as perdas são incalculáveis?, disse um integrante do governo mauritano, que não quis se identificar. De acordo com ele, com o cancelamento do rali, muitas reportagens de turismo sobre a Mauritânia deixarão de ser publicadas, o que será um grande prejuízo em termos de exposição da imagem.

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