Bôrtolo admite que sua conta ?servia? ao TJD

Antes do depoimento de Roman, o presidente do TJD, Bôrtolo Escorsim, explicou à imprensa os motivos de manter em seu nome a conta bancária do Tribunal. Segundo o presidente, a atitude foi tomada para ?facilitar? a vida dos times do interior e dar maior independência à entidade.

A denúncia partiu do presidente do Engenheiro Beltrão, Luiz Linhares, em depoimento ao auditor Octacílio Sacerdote Filho, responsável pelo inquérito do ?caso Bruxo?. Escorsim disse que a conta, em nome dele e da vice-presidente do Tribunal, foi aberta em agosto de 2004, época em que a FPF não poderia efetuar transações bancárias por problemas na Justiça. Como o TJD não é uma pessoa jurídica nem possui CNPJ, não poderia emitir recibo ou manter conta própria em banco.

Escorsim disse que a arrecadação mensal do TJD, de cerca de R$ 1 mil, não dá para cobrir os gastos. O dinheiro arrecadado com multas, como os R$ 5 mil pagos pelo Atlético este ano, serviram para comprar equipamentos de informática para o próprio Tribunal. ?A intenção era desvincular o TJD da Federação. No momento em que a justiça desportiva pede cinco reais para o café, perde a independência?, justifica o presidente do Tribunal, que apresentou recibos comprovando o pagamento de R$ 1.190 em multas, que foram repassados a instituições de caridade.

Por causa da polêmica, Escorsim decidiu encerrar a conta. ?Agora os clubes do interior terão que vir à tesouraria da Federação para fazer pagamentos ao Tribunal?, disse. Ele também pediu aos auditores do TJD-PR para instaurar inquérito de apuração do fato. ?A conta foi aberta com aprovação do tribunal pleno. Não negamos a irregularidade e nosso erro, mas não admito suspeitas contra o trabalho sério e digno do TJD. Não jogaria 30 anos de carreira por causa de R$ 100?, afirmou Escorsim.

Ao saber das denúncias, o procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), o paranaense Paulo Schmidt, pediu que o TJD-PR explique o fato. Schmidt lembrou que a Lei Pelé e o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) determinam que o pagamento de taxas e multas aplicadas pelo tribunal seja feito na tesouraria da Federação, e que o custeio das atividades do TJD também seja de responsabilidade da FPF. O presidente do STJD, Luiz Zveiter, deu prazo de cinco dias para o tribunal paranaense se manifestar.

Carvalho mente no depoimento

Antônio Carvalho, vice-presidente da Comissão de Arbitragem da FPF até o início do mês, apresentou ?provas? pela metade. O dono da conta suspeita de concentrar depósitos de venda de arbitragens depôs ontem, a portas fechadas, no Tribunal de Justiça Desportiva. E se contradisse novamente.

Carvalho reafirmou que a conta investigada pelo TJD foi encerrada em abril de 2005. ?Ele trouxe extratos dessa conta de 2005. Havia movimentação nos meses de agosto e setembro. Ele mentiu no depoimento?, disse o auditor Octacílio Sacerdote Filho. A Tribuna já havia mostrado que a conta estava ativa até a última quinta-feira, mesmo dia em que o pedido de encerramento foi protocolado no Banco Itaú.

O ex-vice de Valdir de Souza confirmou que recebeu na conta depósitos do presidente do Engenheiro Beltrão, Luiz Linhares. Conforme Linhares declarou na véspera, Carvalho alegou que tratava-se do pagamento de uma palestra sobre arbitragem e das despesas de um torneio de futebol amador patrocinado pelo Engenheiro. O dinheiro entrou na conta suspeita em algumas parcelas, pagas em 2004. Carvalho não mostrou a Sacerdote a movimentação da conta antes de janeiro de 2005.

Sacerdote afirma que tem mais gente envolvida no caso

O depoimento de Roman foi considerado ?fantástico? pelo auditor Octacílio Sacerdote Filho, que preside o inquérito do ?caso Bruxo?. ?Você acaba de entrar para a história do futebol paranaense. Parabéns pela coragem de denunciar o que muitos sabiam, mas temiam revelar?, disse ao árbitro, durante a sessão aberta à imprensa.

Alguns dos árbitros que acompanharam Roman também depuseram ontem e trouxeram novas denúncias. ?A maioria relatou que os jogos dos times que subiram à 1.ª Divisão nos últimos anos revelam muita coisa. Os escalados eram sempre os mesmos. Isso indica que o esquema envolvia outras pessoas, com cargos superiores ao dos árbitros?, disse Sacerdote. As escalas da Série Prata eram comandadas pelo então presidente da comissão de arbitragem, Valdir de Souza, pelo vice Antônio Carvalho e pelo diretor-administrativo da FPF, Johelson Pissaia.

O auditor disse que irá estudar o processo antes de decidir se convoca outras pessoas para depoimento. Os seis árbitros citados por Roman poderão apresentar defesa por escrito, a ser anexada ao inquérito. ?Há elementos mais do que suficientes para se afirmar que existe uma máfia do apito do futebol paranaense?, avalia Sacerdote.

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