Bastidores

Proibição da grama sintética na Arena da Baixada deixa Atlético perplexo

Autorizada pela Fifa e com certificado até o ano que vem, a grama artificial da Arena da Baixada sofreu uma "virada de mesa". Foto: Antonio More

Era uma segunda-feira naturalmente tensa. Afinal, era o dia do pós-Atletiba, e o Atlético estava dividido. De um lado, o departamento jurídico definindo posições para possíveis ações contra a Federação Paranaense de Futebol. De outro, o futebol, esquecendo do Estadual e centrando forças na Libertadores. Era a hora de pensar no Deportivo Capiatá, adversário desta quarta (22), às 21h45, no mata-mata decisivo da competição continental. E de fazer as malas para ir ao Paraguai. Mas aí veio a bomba. A partir de 2018, o Furacão não poderá mais ter gramado artificial na Arena da Baixada.

Não saiu da FPF, nem do Paraguai, nem dos gabinetes de Curitiba, muito menos da Arena da Baixada. Saiu de uma sala arejada, uma daquelas gigantescas salas de reuniões da sede da CBF. Aquela que até recentemente tinha o nome de José Maria Marin, o cartola que cumpre prisão domiciliar nos Estados Unidos. Era onde acontecia o conselho técnico da entidade, que tratava de questões específicas do Campeonato Brasileiro da primeira divisão. A Série A, como conhecemos.

Reunião do conselho técnico da CBF. Muito papo, discussões amenas e o Atlético sendo prejudicado. Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Reunião do conselho técnico da CBF. Muito papo, discussões amenas e o Atlético sendo prejudicado. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Geralmente são encontros amenos, onde os temas discutidos chegam a ser banais. Um dos tratados na segunda-feira, imaginem, foi o número máximo de mascotes que cada time pode entrar a cada partida. Como informação, o número subiu de 22 para 44 crianças. Mas, aos poucos, os temas sérios foram entrando na pauta. Estádios com menos de 12 mil lugares foram vetados. Depois, a venda de mando para fora do estado de origem do clube mandante foi proibida, para reclamação veemente do Flamengo. “O Flamengo é um clube nacional, tem torcida em todos os lugares, acho que essa decisão foi muito ruim, porque ela inclusive inviabiliza três ou quatro arenas que foram construídas para a Copa”, disse o presidente Eduardo Bandeira de Mello.

Golpe

Aí apareceu Eurico Miranda, aquele. O presidente do Vasco surgiu com uma proposta. Banir gramados artificiais do Campeonato Brasileiro. No seu estilo boquirroto, gritou: “Em grama sintética o meu time não joga”. Como é de praxe, nenhum dirigente o contestou. O assunto foi a votação e foi aprovado por quinze votos a cinco – Atlético, Palmeiras, Sport, Bahia e Coritiba. A decisão atinge apenas o Furacão, pois na Série A apenas a Arena da Baixada tem esse tipo de campo – aprovado pela Fifa e com certificado válido até março do ano que vem.

Justamente em 2018 a CBF impedirá que o gramado artificial seja usado. “Esse ano é uma transição. Está aprovado um período transitório. Isso não impede de chegar no conselho técnico do ano que vem e os clubes reverem isso aí, mas agora foi decidido que para 2018 não será permitido”, afirmou Manoel Flores, diretor de competições da entidade. E, para que neste ano aconteçam jogos na Arena da Baixada, o Atlético terá que liberar um treino para todos os clubes na véspera das partidas. Não havia nenhum cartola rubro-negro no Rio, apenas um advogado. Certamente o que facilitou o lobby contrário.

Reação

A primeira reação dos dirigentes do Atlético foi de perplexidade. A decisão de trocar o gramado da Arena da Baixada veio após as inúmeras tentativas de que a grama natural “firmasse” no terreno do estádio, que é muito úmido. Desde a reinauguração de 1999, nunca o campo foi perfeito. Durante a Copa do Mundo, ironicamente foi o pior momento, criticado por todas as seleções que jogaram em Curitiba. A decisão foi mudar tudo e colocar o piso artificial.

Além da melhora técnica, o gramado sintético da Arena da Baixada facilita a vida do Atlético para os eventos que acontecem no estádio – como o UFC do ano passado, e a decisão da Liga Mundial de vôlei masculino, que acontecerá este ano. Daí o tamanho do prejuízo para o clube.

Luiz Sallim Emed fala que as pessoas não sabem dos custos de uma partida de futebol. Foto: Daniel Castellano
“Não vamos nos calar”, diz Luiz Sallim Emed. Foto: Daniel Castellano

Havia revolta com a atitude de Eurico (velho desafeto de Mário Celso Petraglia). Mas sabia-se que outros clubes também já haviam chiado, com o apoio da imprensa de outros estados, que relativizou a campanha do Atlético no Brasileiro do ano passado, dizendo que ela era potencializada pela grama artificial da Arena da Baixada. Mas o jornalista Raphael Sibilla, da TV Globo, mostrou em números que o “fator Arena” vem de vários anos, e não melhorou com a implantação do piso artificial.

Por isso a indignação do presidente Luiz Sallim Emed. “Sempre tivemos um ótimo rendimento em casa. Vamos discutir, enfrentar, e estou certo de que vamos conseguir reverter essa decisão. O gramado é aprovado pela Fifa, o Atlético não vai se calar. Vamos buscar todos os argumentos para mostrar que não tem nenhuma vantagem técnica”, comentou. Sobre Eurico Miranda? “É uma ideia estreita, como têm sido algumas ideias dele. Um dirigente que está no ocaso da carreira”, resumiu Emed.