Coração dividido

Uruguaio de nascença, mas adotado por Curitiba, torcedor se divide entre Athletico e Peñarol

Jorge França torce para Athletico e Peñarol. No duelo desta terça-feira (3), coração vai pender pro lado rubro-negro. Foto: Albari Rosa/Foto Digital/Tribuna do Paraná

Um coração dividido. Torcedor do Peñarol desde “chiquitito” na pequena Artigas, que fica a 600 quilômetros da capital Montevidéu, o uruguaio Jorge França, 57 anos, carrega no peito outro amor de longa data: o Athletico. Isso porque ele mora em Curitiba há 32 anos e é, também, apaixonado pelo Furacão.

Nesta terça-feira (3), os dois times do “gringo”, como é chamado pelos amigos, jogam pela rodada de abertura do Grupo C da Libertadores, às 21h30 na Arena da Baixada. Será um difícil teste para ele, que, igualmente, se dedica aos dois escudos.

Quando saiu de seu país aos 24 anos para tentar a vida no Brasil, Jorge jamais imaginou que décadas depois teria o privilégio de ver a primeira equipe a qual torceu tão de perto. Frequentador assíduo quando mais novo do estádio Centenário, antiga casa do Peñarol – o Campeón del Siglo foi inaugurado em 2016, o metalúrgico receberá o Aurinegro praticamente em casa.

“Nem em sonhos pensei que poderia acontecer. Não acreditei quando vi o sorteio deste ano da fase de grupos, ainda mais porque já vivi isso em 2018. Fico dividido, mas muito feliz”, garantiu.

Sócio de carteirinha do Rubro-Negro desde 2008, o uruguaio já pôde presenciar outras partidas do Peñarol na cidade que o acolheu. Isso porque o Athletico enfrentou o time uruguaio há dois anos, pela Sul-Americana. O Rubro-Negro venceu por 2×0 na Arena da Baixada e em Montevidéu aplicou uma goleada de 4×1. O Furacão também realizou um amistoso com os “hermanos” em 2017, que acabou em 1×1, mas Jorge não foi porque estava viajando.

“Não pensei que poderia ser tão fácil para o Athletico na Sul-Americana. Desta vez acredito que vai ser mais disputado”, analisou.

Apesar de chegar a Curitiba em 1988, foi apenas em 1995 que o uruguaio vestiu, de vez, o manto atleticano. Entre os motivos que o fizeram se decidir pelo vermelho e preto estão as raízes de um famoso dirigente.

Paixão do uruguaio pelo Furacão começou nos anos 1990. Foto: Albari Rosa/Foto Digital/Tribuna do Paraná

“Na década de 1990 o Paraná Clube ganhava tudo e muitos amigos falavam para eu virar paranista. Até acompanhei alguns jogos, mas nunca me empolguei. Quando soube que um filho de uruguaios estava à frente do Athletico isso me chamou muito a atenção, e desde 1995 me tornei torcedor fiel do Furacão”, detalhou, referindo-se ao presidente Mario Celso Petraglia, então no início de sua gestão.

Emoções nas arquibancadas

Como bom torcedor, o metalúrgico – que também participa de feiras vendendo comidas típicas uruguaias – presenciou grandes conquistas de seus dois times. Em 1982 viu “in loco” Los Carboneros ganharem a Libertadores, e, pela TV, a conquista do Mundial, no Japão, – então Copa Intercontinental – em cima do Aston Villa. Já morando na capital paranaense, viveu a conquista do Campeonato Brasileiro de 2001, sempre presente nos jogos, no título que para ele é o mais importante de todos. Foi assim também na campanha da Sul-Americana, em 2018, e na Copa do Brasil, em 2019.

Sempre com muitos palpites e análises quando o assunto é futebol, os maiores jogadores da história atleticana, para ele, são Oséas e Paulo Rink, enquanto no Peñarol o ídolo é o atacante Fernando Morena, que também vestiu a camisa da seleção uruguaia em 1974 e foi o maior goleador da história do aurinegro, no qual também foi técnico.

Outra coincidência que une ainda mais Jorge aos seus times são as siglas de ambos. “Os dois são CAP, começam com Club Atlético (Athletico) e têm histórias muito similares”, riu.

Um bom “asado”

Para matar as saudades do país de origem, e das arquibancadas uruguaias, Jorge faz parte de um grupo de uruguaios em Curitiba. Eles se reúnem sempre que possível para fazer um típico “asado” e ver jogos da seleção celeste.

“Somos poucos, um país pequeno. Não podemos abrir mão de torcer pela seleção de jeito nenhum”, destacou, mesmo que alguns desses amigos vistam outras cores do Nacional. “É a maior rivalidade. Nem falamos o nome desse time”, disparou.

Sobre quem sairá vitorioso no primeiro encontro entre as equipes que torce, o “gringo” lembra que serão duas vagas para as oitavas de final. Também fazem parte do Grupo C o Colo-Colo, do Chile, e o Jorge Wilstermann, da Bolívia.

“Quero que aqui ganhe o Athletico e lá o Peñarol, mas acima de tudo, que os dois se classifiquem”, concluiu.

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