Memória

25 anos do Tetra: uma tarde inesquecível

A foto depois da final. Eu não vi essa cena ao vivo. Foto: Arquivo

Quando eu olhei para trás, meu pai não estava mais ali. Passava um pouco das 15h daquele domingo de sol, 17 de julho de 1994, e Curitiba estava em silêncio – com o coração na mão, pra ser mais exato. Tava para começar a decisão por pênaltis da Copa do Mundo entre Brasil e Itália, um grito na garganta de uma geração queria sair, mas ainda precisava passar por mais uma provação.

E meu pai não quis brincar com o destino. Sentiu-se indisposto e saiu do salão de festas. Foi lá longe, no meio da garagem do prédio em que um casal de amigos dele e da minha mãe moravam, ali na Padre Anchieta. Foi lá que assistimos ao jogo que marcou a vida de todo mundo que tem hoje 30 anos ou mais.

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Aqueles minutos valiam por décadas. Lembrava do meu choro convulsivo aos 4 anos vendo o Brasil perder para a mesma Itália em 1982, da minha tristeza imensa quando nos pênaltis perdemos para França em 1986, de eu querer quebrar uma prancha de bodyboard (a gente falava morey boogie) após Maradona e Caniggia acabarem com nossas esperanças em 1990.

Aos 16 anos, eu não queria aquela seleção que nos fazia sofrer tanto nos campos dos Estados Unidos. Era ‘viúva’ de Telê Santana, não entendia porque a CBF não tinha demitido Carlos Alberto Parreira depois daquela derrota vergonhosa para a Bolívia, nas Eliminatórias. Mas vibrara com Romário contra o Uruguai e, sabe como é, Copa do Mundo é Copa do Mundo, como diria o filósofo.

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Aquele Mundial teve muitas cenas marcantes – sem contar a frase “é tetra”, do Galvão Bueno -, mas nada me deixa tão perto daquele domingo do que a imagem do meu pai andando lentamente pra longe da televisão. Com a camisa azul da seleção, eu não tinha muito o que fazer. Não iria conseguir trazê-lo pro salão de festas. E a Itália já tinha perdido um pênalti.

Tinha sido Baresi, aquele que tinha feito uma cirurgia no joelho no meio da Copa e voltava na final. Quis avisar meu pai, mas Márcio Santos já tinha errado também. Além do mais, os berros e o silêncio faziam o papel de um narrador daquela decisão. Quando o nosso zagueiro errou, achei que a vaca tinha ido pro brejo. Mas não foi. Taffarel defendeu a cobrança de Massaro. E Roberto Baggio fez aquilo que todo mundo sabe.

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Eu não vi mais nada. Saí correndo pra avisar meu pai, como se o foguetório não estivesse fazendo isso. Gritei como nunca até abraçá-lo. O coração dele estava a salvo e eu tinha visto pela primeira vez o Brasil ganhar uma Copa. Nada mais seria igual.

Corta a cena e eu estou, com minha mãe e meu pai, que sempre odiaram aglomerações, no meio da Marechal Deodoro cantando como crianças. A tarde não parecia ter fim, o sol brilhava até mesmo de noite. O coração levou meu pai 17 anos depois, mas naquele 17 de julho de 1994 ele bateu feliz.

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