Água Verde Curitiba

Com promessa de dinheiro fácil, curitibanos caem em golpe da bolsa; prejuízo chega a R$ 2 milhões

Escrito por Gustavo Marques

É com essa promessa, de um lucro rápido e grande, que muitas vítimas entraram pelo cano investindo na Wolf Trade Club

“Eu os defino como estelionatários e enganadores da boa-fé. Eles representam um risco para a sociedade e milhões de reais foram desviados”, relatou Gilvan Lucas Dutra, empresário, que se diz enganado por jovens que prometiam valorizar no mínimo 30% o valor aplicado em corretagem de valores. A polícia classificou a ocorrência como o golpe da “pirâmide financeira”. A empresa acusada é a WTI Administradora de Bens (Wolf Trade Club), com sede no bairro Água Verde, em Curitiba. Com seis sócios esbanjando simpatia, conhecimento da bolsa de valores e posses financeiras, a teia envolveu familiares, amigos próximos e até a participação de um pastor de uma igreja evangélica de São José dos Pinhais, na região Metropolitana de Curitiba.

+Atualização! Polícia caça donos de empresa denunciada pela Tribuna por esquema de pirâmide

A reportagem da Tribuna teve acesso a contratos, mensagens de texto e áudios que comprovam que famílias perderam a economia de anos e agora buscam justiça para reaver o que foi investido na empresa. “Perdi todo o meu dinheiro de uma rescisão trabalhista. No total, foram R$ 30 mil de cinco anos de trabalho, levantando cedo e com o propósito de ajudar meu filho que está em uma missão religiosa. Ele está muito bem lá, mas poderia estar melhor”, relatou Thais Gonçalves, vítima da Wolf Trade Club.

+Caçadores! Idosa de 72 anos precisa catar recicláveis para sobreviver!

Na Justiça Civil, são 36 processos em andamento e o valor devido aos clientes, seja por descumprimento de contrato, danos morais e materiais, corretagem, inadimplência, ultrapassa R$ 2 milhões de reais.

O golpe

O contrato de aplicação de investimento assinado e reconhecido em cartório prevê que o retorno do dinheiro aos clientes da empresa seria equivalente a uma parcela de 30% do valor investido em um dos planos de compensação. Os planos eram divididos em categorias Silver, Single, Medium e Premium, a diferenciação se deve ao valor inicial que será investido.

+Caçadores! Procedimento de congelamento pode salvar perna de rapaz de Curitiba

Na categoria Silver, o investimento de no mínimo R$ 10 mil chegaria em 3 meses a um valor próximo a R$ 13 mil, situação que em outros investimentos dificilmente alcançaria. “Eu queria investir em algo e a poupança não está rendendo. Conheci a empresa Wolf por um amigo do meu filho, que mostrou o lucro de se investir com eles. Fiz o primeiro investimento em dezembro esperando receber em fevereiro. Fiz o segundo investimento e não recebi nada até hoje”, ressaltou Thais Gonçalves, que hoje busca uma nova oportunidade de trabalho.

A empresa foi fundada em 2016 e desde então utiliza estratégias de angariar clientes que, em sua grande maioria, são conhecidos dos operadores, também denominados de traders. Estas pessoas buscam dinheiro em curto prazo e usam a volatilidade da bolsa de valores para movimentar a renda da clientela. Estes operadores também usam a relação íntima da própria família para fazer com que o negócio continue e eles naturalmente subam na pirâmide.

+Caçadores!Por que é tão difícil arrumar emprego depois dos 50 anos?

“Eu entrei depois de um contato com meu sobrinho que trabalha com eles. Eu sempre fui crítico, mas meus familiares estavam recebendo até um certo momento. Resolvi experimentar e comigo deu certo. Eu investi R$ 30 mil e quatro meses depois tinha R$ 51 mil na minha conta. Isto foi maravilhoso, incrível. Investi mais e aí perdi quase R$ 300 mil reais. Juntando de todos da minha família, o rombo passa de R$ 600 mil”, ressaltou Gilvan Lucas.

O pastor

Além dos operadores serem pessoas próximas aos clientes e demonstrarem que o enriquecimento rápido seria bem vantajoso, uma vítima relatou para a reportagem que o Pastor Edson da Silva, da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, de São José dos Pinhais, também teria indicado algumas pessoas para a Wolf Trade. “Tem pais que estão juntos nisto e tem até o Pastor Edson envolvido. Quando se fala em Igreja, a fé caminha ao lado. Querendo ou não, a gente acredita. Infelizmente o pastor envolveu a Igreja inteira e tinha conhecimento das condições financeiras das pessoas, sabia o valor mensal dos fiéis, quanto podia investir, se era aposentado ou não. Mexeu com a dignidade e a fé da gente e isto foi muito chato”, confidenciou uma mulher que pediu para não ser identificada.

A informação da testemunha ouvida pela reportagem dá conta de que o pastor pertencia à Assembleia de Deus. A reportagem entrou em contato telefônico com a sede da entidade em SJP, e nova fonte ouvida de forma anônima confirmou que o pastor realizava “alguns serviços para a igreja”.

No entanto, no final da tarde desta segunda-feira (7), advogados da Assembleia de Deus enviaram uma notificação à reportagem dizendo que “o Sr. EDSON DA SILVA, não é membro da Assembleia de Deus em São José dos Pinhais, sequer pastor vinculado a esta igreja, conforme veiculado na matéria”, desmentindo a fonte ouvida pela reportagem na última quarta-feira (2).

+Caçadores!Rede de lojas cria novidade que vira sucesso entre clientes!

Procurado pela Tribuna, o Pastor Edson desmentiu que teria indicado pessoas para a empresa e naturalmente não teria ganho comissão para tal. A comissão de indicação é de 10% do total investido pelo novo sócio.

+Caçadores!Restaurante de Curitiba serve marmitas e vira polêmica na vizinhança!

Foto: Pixabay.

Vida de luxo

Sócios da empresa esbanjavam dinheiro e ostentavam nas redes sociais, com roupas, carros, viagens e apartamentos

Como parte de demonstrar o enriquecimento rápido e fácil, os 6 acionistas da empresa esbanjavam poderio financeiro. No dia a dia e nas redes sociais, roupas da moda, ternos bem alinhados, carros importados, coberturas em Balneário Camboriú e vídeos ostentando uma vida de sonhos.

+Caçadores!Dupla cria app que ajuda na rotina de crianças autistas!

Lucas de Mello Bubniak (Presidente e fundador) e os sócios Caique Marques Fontana (Diretor de Marketing), Gabriel Maximiano Picancio (Diretor de Tecnologia), Hugo Felix da Silva (Vice Diretor de Expansão), Henrique Oldair Mendes da Silva (Diretor de Expansão) e Gabriel de Mello Graminho (Vice-Presidente e Diretor de Operações) arrecadavam um bom volume de dinheiro e conseguiram movimentar o ciclo em que todos estavam satisfeitos. “Eles faziam palestras, apresentações e mostravam um padrão altíssimo de vida. Estratégia do golpe! Eram demonstrações de luxo e percebemos isto depois”, disse o empresário Gilvan Lucas.

No entanto, no começo de 2019, os problemas começaram a bater na porta e a briga pelo poder na Wolf aumentou. Desconfiança, ego e cobranças de clientes insatisfeitos provocaram um “racha” na direção e os calotes aumentaram. Em abril, a Polícia Civil recebeu os primeiros casos no 2º Distrito e as investigações transformaram a vida destes jovens que perceberam que podem ser presos por estelionato e principalmente por não cumprimento de contrato que foi assinado e reconhecido pela empresa/sócios.

Caçadores: Outubro rosa foi o primeiro mês ‘colorido’ do ano

Polícia Federal

Com as investigações em andamento e depoimentos de testemunhas, a Polícia Civil encaminhou para a Polícia Federal um requerimento em que pede para que o órgão federal assuma o caso. Deve-se a isto a suspeita que o dinheiro das vítimas tenha deixado o Estado do Paraná com destino a outras cidades do Brasil e até outros países como Argentina, México e Alemanha. Procurada pela reportagem da Tribuna, a PF informou que não se manifesta a eventuais investigações em andamento.

Com os processos Criminal e Cível, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia vinculada ao Ministério da Economia suspendeu desde o dia 9 de julho de 2019, qualquer tipo de atuação da empresa e, naturalmente, de todos os sócios em território nacional. A CVM verificou indícios de que os envolvidos não obedeciam aos requisitos legais ou regulamentares para administração de carteiras de valores mobiliários. A Comissão ainda alerta que o não cumprimento da suspensão acarretará em multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Resposta dos envolvidos!

O presidente da empresa, Lucas Bubniak, alega que um golpe afetou o investimento e assim não pôde honrar os compromissos com os clientes. “Sofremos um golpe e tivemos dificuldade para recompor. O racha com os outros sócios ocorreu devido a propósitos diferentes e improbidade administrativa. Denunciei os responsáveis pelos valores e entreguei para a Polícia Federal os nomes, transações efetuadas, conversas e vídeos gravados, que demonstram os detalhes do acontecido”, ressaltou Bubniak.

Quanto aos valores devidos, Bubniak acredita que poderá ressarcir aos poucos a clientela. “ Projetos foram desenvolvidos na área de tecnologia e a partir dos recursos que iremos obter foi criado um fundo para reparar a todos aqueles que sofreram juntos à empresa neste processo”, ressaltou o Presidente da Wolf. Os outros sócios citados não foram encontrados ou preferiram não comentar sobre o assunto.

Novas promessas de pagamentos seguem sendo feitas semanalmente. Dinheiro em moeda virtual, prazos de 90 dias para depósitos parcelados e críticas abertas em rede social contra os antigos parceiros são estratégias para manter a relação e mostrar transparência ao grande público.

Sobre o autor

Gustavo Marques

(41) 9683-9504