País do futebol

Plantonistas de todos os hospitais da cidade, uni-vos. Hoje é dia de Atletiba.

A estatística ensina que vamos receber muitas visitas no PS. Pauladas, facadas, pedradas, cadeiradas – pois é, somos o país do futebol.

Vira e mexe a imprensa noticia a violência inerente a jogos de futebol. Contudo, pouco é dito a respeito dos atendimentos no PS em dias de jogos.

Caro leitor, aqui os caras fazem fila.

Quando recentemente um garoto na Bolívia foi morto por um míssil lançado pela torcida organizada do Corinthians, houve um alvoroço da imprensa para tentar compreender o motivo de alguém levar um sinalizador marítimo para dentro do estádio. Poxa, se duvidar, os caras levam até dinamite. Qual a novidade disso?

Sim, mas para virar notícia você precisa pelo menos morrer ou matar alguém. Tratando-se de explosivos, pouca gente quer saber de tímpanos perfurados por rojões, queimaduras e dedos atorados por foguetes ou retinas destruídas por bombas de luz.

Já nos embates corporais, as brigas acontecem entre torcidas rivais e entre torcedores do mesmo time. Atingem pessoas que nada têm a ver com o jogo e ocorrem – inclusive – sem nenhum motivo aparente. Até mesmo os torcedores que não têm com quem discutir, acabam saindo na porrada com a polícia mesmo. Sim, tudo vale a pena quando a cabeça é pequena.

Rapidamente eles chegam ao PS trazendo todo tipo de queixa e ferimento. É quando o jogo começa para nós. Enfermeiros, anestesistas, ortopedistas, cirurgiões, pediatras, oftalmos e até dentistas entram em campo.

No meio da correria, sou chamado para realizar uma sutura de rosto em um torcedor invocado. Meio sem graça, pergunto sobre o jogo e ele começa, empolgado, um longo relato sobre uma confusão no terminal do Santa Cândida, que culminou com uma tijolada no seu rosto.

Sabe, tem isso no dicionário: animalidade.

Então, no final das contas pouco importa se você é um torcedor inocente ou suspeito, roxo ou bêbado, da paz ou da organizada. Também não importa se é decisão ou clássico. O resultado destes jogos são sempre uma incógnita.

E a inteligência de alguns torcedores também.