Efeito Putin: fertilizantes escassos e alta no preço dos alimentos

Mandatário russo está a frente das decisões que tem dificultado a entrega de fertilizantes ao Brasil Fonte: Shutterstock

Prepare o bolso: os alimentos vão encarecer por causa do Putin

Nos últimos dias, pessoas de todos os cantos do planeta têm acompanhado, estarrecidas, a invasão da Ucrânia pela Rússia. Isso porque, além da preocupação com as vidas humanas, essa guerra, de alguma forma ou de muitas maneiras, gera reflexos econômicos em escala global. E, o Paraná não fica de fora. Ao contrário, o estado, ou melhor, no campo e na cidade os cidadãos serão atingidos em cheio pelos desdobramentos deste conflito (que, fique registrado, é um absurdo estar acontecendo!).

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Pelo perfil produtivo do Paraná, que tem parte da sua economia baseada na atividade agropecuária, os impactos, num primeiro momento, serão dentro da porteira. Mas inevitavelmente, vão acabar nas prateleiras dos supermercados.

Explico melhor. Hoje, o Brasil importa 84% dos fertilizantes utilizados nas lavouras. Deste montante, 22% têm origem no país comandado por Vladimir Putin. De forma mais detalhada, a Rússia é o segundo maior produtor de potássicos e nitrogenados e o quarto de fosfatados do mundo (insumos que fazem parte do grupo de fertilizantes e essenciais para a agricultura). Como o Paraná é um dos maiores produtores nacionais de grãos, principalmente soja, milho, trigo e feijão, boa parte destes insumos acaba vindo para cá.

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Com a guerra, a exportação de fertilizantes (e outros tantos produtos) está comprometida, muito em função das sanções impostas por dezenas de nações. Mesmo o Brasil não tendo anunciado sanções, a logística global acaba travada, pelo menos parcialmente.

Mas, vamos considerar que o fornecimento não seja interrompido na sua totalidade. Uma quantidade menor de fertilizantes chegando ao Brasil para abastecer uma agricultura que cresce a cada safra é, em bom português, menos insumo para mais área plantada. Aí entra a famosa lei da oferta e demanda. Com mais produtores rurais atrás de menos produtos disponíveis, o preço vai lá em cima. Isso já está acontecendo. Por exemplo, um agricultor da região de Londrina, no Norte Pioneiro, pagava R$ 1.690 pela tonelada de ureia em dezembro de 2019. No mesmo mês de 2020, precisou desembolsar R$ 2.160. Em dezembro do ano passado (2021) gastou a bagatela de R$ 6.140 pela mesma quantidade. Ou seja, aumento de 263% no valor da ureia em dois anos.

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Não pense você que essa alta substancial no custo de produção vai ficar dentro da porteira, no bolso do produtor rural. Ela, certamente, já está repassada para os demais elos da cadeia produtiva (não podemos esquecer que a agricultura é um negócio como qualquer outro que visa lucro), até chegar no consumidor final, como estamos verificando a cada visita ao supermercado.

Outra forma de medir o impacto desta guerra descabida no nosso dia a dia será o preço do pão francês, massas, biscoitos e outros alimentos à base de trigo. Como mencionado na Coluna Rural & Urbano do dia 10 de fevereiro, quando Rússia e Ucrânia ainda apenas trocavam farpas, o Brasil é dependente do trigo destas duas nações, que juntas respondem por 29% da produção mundial. Como não somos autossuficientes, precisamos importar do mercado externo. Mais uma vez, entra na equação as sanções, logística travada e aumento de preços, que vão culminar em um café da manhã mais indigesto, pois o trigo atingiu a maior cotação dos últimos 14 anos essa semana.

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Processo reverso

Do outro lado da balança comercial, o fato de a Rússia e Ucrânia não figurarem como importantes parceiros comerciais do Paraná traz um alento. Claro que todo e qualquer produto paranaense mandando para fora é mais dinheiro injetado na economia estadual. Mas, não é algo que vá, digamos, comprometer a máquina.

Em 2021, o Paraná exportou produtos agro para Rússia no valor de 214 milhões de dólares. Em relação a Ucrânia, o valor é ainda menor, na casa dos 27,1 milhões de dólares. As exportações paranaenses para essas duas nações se resume a café, um tanto de carnes e fumo e alguns produtos dos complexos sucroalcooleiro e florestal.

Independentemente do que deixe de entrar para abastecer a agropecuária paranaense ou sair para gerar dividendos por aqui, o importante é o cessar fogo entre as duas nações. O mundo tem tantos outros motivos para lutar! O leque de opções é enorme. E garanto, as causas são bem mais nobres, importantes e fundamentadas do que temos observados pela televisão.

>> Leia mais sobre a relação entre campo e cidade na coluna Rural & Urbano!