A (injusta) difamação da carne de porco

Carne suína atende a boa parte das necessidades diárias de nutrientes de uma pessoa Fonte: Shutterstock

Eu já escutei muita gente falando, e você provavelmente também, que não come carne de porco porque “é um animal sujo, que transmite doenças”. Imagino que essas pessoas tenham em mente aquela antiga produção de carne suína, com animais soltos em granjas sebentas e/ou com acesso a lixões. Talvez venha em sua mente, caro leitor, o porquinho Chovinista, fiel escudeiro do Chico Bento, da Turma da Mônica, que caminha levando lama por onde passa.

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Fato é que precisamos vir para o ano 2022. Esse imaginário popular reflete um modelo que ficou para trás e precisa ser urgentemente desmistificado. Claro que, antigamente, quando a produção nacional de suínos não tinha a escala atual, as exigências sanitárias e de bem-estar e o profissionalismo de hoje, situações como a descrita no começo deste texto poderiam existir.

Minha rodagem de mais de 10 anos percorrendo granjas de diversos estados permite afirmar que pensar assim hoje é um grande equívoco. Parafraseando um colega, “é possível almoçar no chão de uma granja de tão limpo o local”. Isso muito por conta das rigorosas exigências sanitárias e de bem-estar animal atuais e da alimentação controlada e balanceada oferecida aos animais que nos alimentam. E a lógica é simples: sem cumprir essas regras, o produtor não consegue vender sua produção para a indústria.

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Sei que existe um aspecto religioso que envolve o não consumo de carne de porco por algumas religiões – e não tenho a pretensão de levantar essa discussão. Mas se o seu receio de consumir carne suína remete ao porquinho Chovinista, eu garanto: não é preciso ter medo.

Ao contrário! A carne suína é também saudável – e uma alternativa mais barata em relação à proteína bovina. Fora da porteira, outro mito é de que a carne de porco não é saudável e transmite doenças. Qualquer carne consumida crua ou de forma imprópria pode causar algum problema a saúde. Mas uma costelinha, uma bisteca ou mesmo uma panceta, preparada corretamente, acompanhada de arroz, feijão e couve, não tem coisa igual de saborear.

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Vamos além do sabor. Uma pessoa que consome 83 gramas de carne suína atende aos percentuais das necessidades diárias de nutrientes: 33% da vitamina B12, 22% do fósforo, 18 % da vitamina B6, 15% do zinco, 11% do potássio e 7% do ferro. Mesmo assim, a desinformação acaba por privar muitas pessoas desta boa gastronomia. No Brasil, o consumo médio é de 15 quilos de carne de porco por ano, enquanto na Europa beira os 45 quilos.

Esse número reflete bem o impacto (negativo) que mitos e informações equivocadas causam na produção da carne suína. Mas, mesmo longe do fim, precisa ser combatido (na melhor expressão da palavra) para que as pessoas possam conhecer mais sobre o tema em questão e usufruir dos benefícios. Resta combatermos para que o consumo (ou não) da carne de porco seja por critério de sabor, e não de desinformação.

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