Os bichos tranquilos de Curitiba

Curitiba é uma cidade de gente apressada, como toda grande metrópole, talvez menos que Nova York e São Paulo, por exemplo. Mas é uma cidade cheia de bichos tranquilos e até surpreendentes. O meu amigo Alfredo Nascimento que além de leitor fiel desta coluna, transformou-se também em contumaz conselheiro, sempre com sugestões, disse que se soubesse que eu fosse escrever sobre uma bela área do São Lourenço, que reproduz a tranquilidade do campo, ele ia sugerir para incluir outra área no Abranches, bem perto da pedreira Paulo Leminski, cujos donos esperam apenas uma boa oferta para passar tudo aquilo nos cobres.

Acontece que nesta área, segundo Nascimento, sempre aparece um pônei. Um belo pônei. E meu amigo ainda tirou onda: “Falar de ovelhas, carneiros e cabras é fácil. Quero ver você falar daquele pônei. Traduzir a magia que é aquele bicho e a sensação que a gente tem de passar por ali e vê-lo pastar tranquilamente”. Eu não posso falar do pônei, porque não o vi. Eu sei que alguns bichos nos enchem de ideias apenas com um olhar, embora enquanto nos olham estejam apenas ruminando. Prometi ao Nascimento que uma hora desta eu passo lá no Abranches para ver o pônei. Mas respondi para ele que Curitiba é uma cidade surpreendente na categoria “bichos inesperados”. Sem conhecer todas as metrópoles do mundo, eu diria que não existe outra igual, com exceção, provavelmente, das grandes cidades da África, lugar onde eu presumo que ainda exista muitos bichos estranhos.

É claro que me refiro a bichos soltos nas ruas e praças, livres e não a bichos enjaulados em zoológicos ou vendidos em lojas de animais, ainda que não domésticos. Por exemplo, eu cansei de ver e de me admirar com garças no rio Belém. De onde vem aquela garça branca – garça que é uma graça – eu não sei. Ela sempre aparece atrás do Mercadorama do São Lourenço, em cujas árvores também cansei de ver aves que considero exóticas, e preciso da ajuda do especialista em assuntos gerais Gerson Klaina para me explicar que bicho é aquele. Aliás, Kleina até hoje tem saudades de um macaco que apareceu em sua casa no Boa Vista. O bicho ficou íntimo da família até um dia ele simplesmente ir embora. Um mistério que nem James Bond conseguiu resolver.

Talvez a proximidade com o parque São Lourenço explique os esquilos – ou seriam caxinguelês – que várias vezes vi atravessar a rua professor Nilo Brandão. Nem vou citar o caso do jacaré do parque Barigui, porque esse de tantos serviços prestados para a divulgar aquela área da cidade se ainda não não fo, devia receber o título de Cidadão Honorário ou Benemérito. Quantas pessoas que não fizeram nada para divulgar Curitiba receberam a honraria? O jacaré nunca recebeu uma homenagem oficial. E devia, ele é um bicho honrado. Agora, o que são aquelas capivaras comendo placidamente nas proximidades do shopping Barigui, minha gente? Altivas, altaneiras, capivaras metropolitanas. Absolutamente fantásticas. Se elas não são domésticas (quero dizer, da categoria de bicho doméstico), pelo menos são civilizadas e nunca que soube desacataram ninguém. Mas vou parar por aqui porque sei que a cidade tem outros bichos interessantes e você, caro leitor, provavelmente deve ter visto por aí um diferente dos que citei acima.