O fogo e os moradores de rua

A discussão sobre as causas do incêndio que destruiu parte do prédio Belvedere, no São Francisco, mascara um dos maiores problemas de Curitiba. As ruas continuam tomadas por moradores sem rumo. De todos os tipos. Não há dúvidas de que o incêndio foi criminoso, intencional. E não será o último.

Pra se ter uma ideia do descontrole da situação, na manhã seguinte à noite em que as chamas consumiram o segundo andar da construção histórica, nossa reportagem lá esteve. E, enquanto conversava com dois guardas municipais que faziam a guarda do local, que será periciado, dois mendigos dormiam dentro do Belvedere.

Há muitos outros locais em risco. Públicos e privados. Alguns de alta relevância pra história de Curitiba. Que, por falta de uma política mais eficiente pra tratar da população vulnerável de rua, e de cuidados especiais com as construções, estão sendo degradados.

Não é raro ver fachadas antigas com vidros quebrados, tapumes de bloqueio removidos, e os locais sendo utilizados como ponto de bebedeira, tráfico e drogadição. É só caminhar pelo Centro. Muitas vezes o ato final que acaba provocando o fogo nem é criminoso. Mas é intencional e com poder destruidor.

Missão

Reinserção social é uma guerra longa. A atual administração municipal até que demonstra boa vontade com o tema, que foi amplamente discutido ao longo da última campanha eleitoral. Mas nesse primeiro ano só patinou. Foram poucas as ações de grande impacto.

A prefeitura se defende, dizendo que há mais vagas em centros de acolhimento que moradores de rua interessados em usá-las. Já as pessoas que vivem sob marquises dizem que é mais seguro dormir ao relento que num desses locais. Que o tráfico rola solto dentro de muitos deles, onde não se pode piscar os olhos.

Não dá pra fugir. O desafio está posto e é do poder público. Resgate, inserção social, capacitação e vida nova. É difícil? Claro que é. Muito. Mas se queremos ter uma cidade justa, agradável e socialmente promissora, é imperioso encarar o desafio.