Índios, antropólogos e padres

Arnoldo Anater

Desesperançadas, as cinco famílias que tiveram suas propriedades invadidas e foram expulsas pelos índios caingangues de Palmas vão pedir a mediação do bispo dom Agostinho José Sartori para demover os indígenas a voltar às suas aldeias. Pretendem também ganhar o apoio do governador Roberto Requião para a solução do problema. Pensam em mover o mundo para provar que suas terras nunca pertenceram à União, à Funai ou aos índios. Tudo começou quando, há quatro anos, uma antropóloga, visitando a reserva indígena, achou que a área destinada aos silvícolas fora reduzida em alguns metros. "Envenenados", os índios resolveram, em 6 de novembro deste ano, invadir as terras e propriedades ocupadas pelos seus vizinhos há mais de um século. Convencidos de que nunca houve invasão por parte dos agricultores, os expropriados estão inconformados porque não podem cultivar suas terras, plantar e colher, quase todos tendo essa atividade como única fonte de renda. Algumas dessas famílias dependem do plantio e colheita da lavoura para pagar financiamento feito junto a estabelecimento de crédito, agora impedidas pelos índios. A Justiça Federal nega a reintegração de posse, ignorando o direito real de propriedade e o problema social que a invasão está criando.

Conhecendo perfeitamente a situação indígena e o trabalho dos agricultores, dom Agostinho manifestou sua preocupação com a invasão por 153 famílias de caingangues, aldeados em uma reserva superior a dois mil hectares e que desfrutam de área suficiente para viver e desenvolver suas atividades artesanais, sem prejudicar o vizinho que trabalha e produz.

Nunca houve em Palmas durante esses quase 150 anos de convivência pacífica entre a reserva indígena e proprietários de terras, qualquer entrevero entre agricultores e caingangues. O que levou à discórdia e que está acontecendo nacionalmente são os tais direitos das ditas minorias, tão propalados pelos defensores do asfalto, de gabinete ou de apartamento. As armas que hoje estão levando terror ao meio rural brasileiro foram lançadas por esses antropólogos, sociólogos, e tudo quanto é "ólogo" defendendo "causas indígenas". Eles não suaram sangue para sustentar uma família que dependia da terra. Não curvaram as costas e não destruíram a saúde tornando produtivas as terras que eram consideradas como "pedidas…". Nunca pegaram no cabo de uma enxada, nos manetes de um arado de boi, nunca trabalharam do amanhecer ao anoitecer, para fazer o Brasil o maior produtor de grãos do mundo.

Para esses antropólogos e sociólogos é fácil filosofar sobre direito desse ou daquele grupo. Deveriam apresentar credencias para falar. Pena que as faculdades brasileiras ainda não conseguem aliar a teoria à prática. É muito simples. Basta lembrar o técnico da seleção brasileira de futebol João Saldanha, que dizia ter o Brasil 150 milhões de brasileiros que se achavam no direito de criticar a seleção, mas ele lembrava para esses 150 milhões que o técnico era ele. Então falem, mas não queiram que a verdade de meia-dúzia seja a verdade de uma sociedade toda. Por favor, primeiro conheçam e depois falem.

Não estamos defendendo a propriedade improdutiva. Até o constituinte de 1988 foi inteligente ao ressalvar a propriedade que esteja contribuindo para a sua função social. O erro, no caso das tais "áreas indígenas", foi deixar a decisão unicamente nas mãos de pessoas que nada sabem do assunto: os antropólogos, muitos estrangeiros, e… quando nacionais, formados nos quadros dos partidos mais radicais que fariam inveja a Mao Tse Tung e fariam Stalin rir das idéias que expressam. Para estes, ter um carro, ou cem alqueires de terra, é ser burguês! Será que sabem o que significa trabalho? Tudo o que hoje existe é resultado de acontecimentos passados justos e legais da época. Se assim não for, como ficam as fortunas construídas com o tráfico negreiro? Agora, não saiu um livro que mostra diversas grandes fortunas brasileiras, atuais, construídas com o "lícito" tráfico de escravos, quando esse lamentável comércio era permitido. Por que esses maravilhosos defensores dos supostos "seculares injustiçados" não miram seu canhões ideológicos nos ladrões dos cofres públicos, que guardam seu dinheiro no estrangeiro, nem ao menos adquirindo uma "terra improdutiva?".

Quando os antepassados adquiriram terras das quais os índios haviam sido expulsos, a prática era legal e com respaldo em políticas públicas que queriam fazer deste País uma nação civilizada…! E onde estão os antropólogos de plantão, que trabalham para a Funai, para lembrar disso! Chega de revisionismo!!!! O que era legitimo e legal tem que ser respeitado. Senão, cadê o velho princípio de justiça do mundo ocidental, tão conhecido nas chamadas culturas "civilizadas", que convenientemente chamaram de "estabilidade jurídica"! Por que a sonegação fiscal prescreve em cinco anos! Só por que é prática de rico e atinge o cofre da "viúva", enquanto que o agricultor que gasta sua saúde para fazer uma terra produzir, jamais terá certeza de que o lugar onde espera seus ossos descansarem seja seu? Sempre haverá um "revisionista" de plantão para tirar a segurança dos coitados agricultores que amam a terra como amam seus próprios filhos.

Arnoldo Anater é jornalista. E-mail: arnoldoanater@yahoo.com.br