Gordo e minoria

Marcelo Amaral

Ser gordo está perdendo a graça. Depois que o IBGE constatou que existem mais pessoas acima do que abaixo do peso no Brasil, eu fiquei desolado.

Banha virou lugar-comum. Maioria. Isso é muito chato. Quero sempre ser minoria. É bem mais divertido.

Por isso, larguei meu ativismo gordo. Não lançarei mais campanhas em favor do acúmulo de tecido adiposo. Pelo contrário, estimularei todo mundo a fazer dieta. Incentivarei quem encontrar a comprar aqueles medicamentos fajutos para regime que aparecem na televisão. Quero que todos freqüentem spas.

Comam rúcula. Façam caminhadas. Caminhem, caminhem bastante. Assim, quem sabe, eu serei o único gordo e sedentário do mundo. E aí vou poder incomodar os magricelas e marombeiros.

Aliás, não sou ativista de nada. Brinco que vou fundar a Fat Human Rights Watch, a Organização Mundial do Sedentarismo e promover o Fórum Obeso Mundial, mas não possuo a menor vocação para a militância. Não tenho muita paciência para escutar papo de ONG histérica. Eu simplesmente sou aquilo que acho que devo ser, sem precisar levantar bandeiras. No episódio da matéria do New York Times que mostrou umas baleias – humanas – checas na praia de Ipanema, apareceu uma tal de International Size Acceptance Association, organização que defende os obesos em todo o mundo. Isso é uma ONG besta e desnecessária. Não necessito de ninguém que "me defenda enquanto pessoa gorda". Quem precisa dessa ISAA é gente fraca e complexada.

Às vezes, tenho vontade de começar a fumar. Só para pirraçar os malas antitabagistas. Deve ser muito engraçado, muito engraçado mesmo, acender um cigarro e ver um monte de gente protagonizar aquela cena patética: com cara de nojo – a testa franzida e os lábios para baixo – e balançando a mão para espantar a fumaça. Ainda vou viver essa experiência.

Eu não estou nem aí que as outras pessoas fumem. Claro, basta o sujeito ter o bom senso de não fumar em lugares muito fechados – tipo elevador. Fico incomodado é com a chatice dos que enchem o saco dos fumantes. Deixem os caras se estragarem do jeito que quiserem. Se vão morrer de câncer ou de ataque cardíaco, problema deles. Há poucos dias, li uma notícia de um empresário americano que demitiu todos os seus empregados fumantes. Não satisfeito, ele também pensava em mandar embora os gordos. Um cara desses merece ser execrado. Não por discriminação contra quem fuma ou é obeso. Mas sim por burrice gerencial. É óbvio, muito óbvio, que um empresário deve contratar e manter funcionários competentes, sem se importar se eles fumam ou comem além da conta. Ele quer dar uma de politicamente ou socialmente correto? Trouxa. Tomara que vá à falência. Eu deixaria de comprar os produtos da companhia desse sujeito, em punição à idiotice empresarial dele.

Conheço homens que não aceitam namorar – ou nem sequer transar uma vez só – com mulheres gordas e/ou fumantes. Isso é besteira. Quando eu estava em forma, também costumava desprezar as banhudas. Agora, que eu estou novamente balofo, não tenho esse direito. E cigarro nunca foi critério de escolha para mim. Existem mulheres fumantes muito interessantes. Não vou dispensá-las somente porque elas produzem fumaça de vez em quando. O cara que descarta as gordas e fumantes, provavelmente, passará o resto da vida no onanismo. Tem gente que não tolera liberdade. Eu amo liberdade. Por isso, quero ser minoria. Sempre.

Marcelo Amaral é jornalista. E-mail: marcelo@marceloamaral.com.br