Desligue o celular!

Edson Nonato

Quase todo mundo já deve ter recebido spams em seus correios eletrônicos ou ouvido histórias sobre acidentes ocorridos em postos de combustíveis pelo uso inadequado de celulares e outros equipamentos eletrônicos. Há algum tempo, uma mensagem que circulou pela internet narrava três acidentes envolvendo aparelhos de celulares próximo a bombas de combustível.

No primeiro incidente abordado pela carta, um aparelho de telefone celular havia sido colocado sobre o capô traseiro de um carro durante o abastecimento; o telefone tocou e, em seguida, um incêndio destruiu o carro e a bomba de gasolina. No segundo, uma pessoa sofreu sérias queimaduras na face quando gases se incendiaram na hora em que a pessoa atendeu uma ligação enquanto abasteciam seu carro. No terceiro e último caso especificado na mensagem, um indivíduo teve seu quadril e virilha queimados quando gases incendiaram seu celular, que estava em seu bolso e tocou durante o abastecimento de seu carro.

Mas até que ponto esse tipo de acidente é verídico? Não há muitas constatações de fatos semelhantes que tenham sido registrados por conta do uso de celulares e de outros equipamentos eletrônicos em postos de combustíveis. Mas até por ser um assunto não tão difundido, os próprios postos e as distribuidoras aconselham que se desligue esse tipo de equipamento quando próximo a alguma bomba de combustíveis. Pelo menos se evita que possíveis acidentes possam ocorrer. Afinal, ninguém vai querer se certificar da veracidade desses incidentes, não é mesmo?

O fato é que aparelhos celulares e outros equipamentos eletrônicos similares – que funcionam por meio de baterias – liberam força suficiente para gerar energia capaz de provocar faíscas e, teoricamente, incendiar combustíveis ou vapores. O que não significa que qualquer celular tenha o poder de causar um incêndio em um posto. O risco, apesar de real, é remoto. Pesquisas científicas indicam que a possibilidade de combustão causada pelo uso de telefones celulares em postos de gasolina é insignificante. Afinal, a quantidade de energia de radiofreqüência emitida pelos aparelhos modernos é muito baixa para causar verdadeiras faíscas, que poderiam inflamar vapores de combustível.

A teoria de que o uso de celulares pode acarretar incêndios se deve ao fato de o álcool, diesel e, principalmente, gasolina serem combustíveis voláteis, ou seja, eles evaporam com muita facilidade. Quando um carro é abastecido, muitos vapores inflamáveis são liberados dos combustíveis e permanecem no ar. Qualquer faísca seria capaz de causar desde uma pequena combustão até uma grande explosão, dependendo da quantidade de gases presente no ar no momento do abastecimento.

A preocupação em relação ao uso de telefones celulares em postos foi baseada na idéia de que haveria um risco da bateria soltar-se e causar uma faísca, podendo inflamar o combustível; porém, não há nenhuma evidência confiável que confirme essa versão. As atuais pesquisas que consideraram, especificamente, o risco de descarga de faíscas de telefones celulares (como ao usar as teclas, desconectar a bateria, alterar a configuração para o modo vibratório, curto-circuito acidental na bateria e descarga eletrostática), concluíram que isso é improvável.

Uma análise do Centro de Estudos de Compatibilidade Eletromagnética Sem Fio, da Universidade de Oklahoma, indicou que enquanto pode ser teoricamente possível que uma faísca da bateria de um telefone celular, em condições muito específicas, inflame vapor de gasolina, a possibilidade disso ocorrer dentro de um posto de combustíveis é muito baixa. O mesmo relatório também determinou que os sinais de rádio emitidos pelo telefone celular podem ser eliminados como potenciais riscos.

Para o motorista comum e portador de telefone celular, a conclusão que todas essas opiniões divergentes levam é que não custa evitar receber e fazer ligações enquanto abastece o seu veículo. Apesar das possibilidades serem improváveis, elas existem. Desligar o aparelho celular ao entrar em um posto é uma precaução defendida pelas distribuidoras de combustíveis e, também, pelos representantes da indústria de telefonia móvel. Além de tudo, evita a possibilidade – mesmo que remota – de acidentes.

Edson Nonato é gerente de operações da FIC-Petróleo, distribuidora de derivados de petróleo.