Apostar é a solução

Ivan Schmidt

Duas candidaturas ao governo do Estado em 2006 estão claramente postas, mas não serão as únicas. O governador Roberto Requião disputará o segundo mandato, salvo ocorrência inesperada lhe lance ao colo a opção acalentada, conquanto difícil na atual conjuntura. Em marcha ligeira, mas controlando o fôlego, num espaço marcado por apoios crescentes, aparece o senador Osmar Dias como candidato duma frente partidária que poderá reunir PDT, PSDB, PP, PSB e – quem diria – o próprio PFL.

Este último bloco está em busca de sobrevida, pois não lhe restaram cartuchos para lançar-se a uma aventura, cujo desfecho poderá ser acachapante. Assim, na falta de melhor opção, embora esse seja raciocínio pessoal do escriba, o PFL não fará nenhuma agressão ao bom senso associando-se à hipotética aliança em torno de Osmar.

Um candidato sempre disponível é o presidente regional do PPS, Rubens Bueno, bem votado nas eleições de governador e prefeito de Curitiba, político embasado pelo discurso da moralidade administrativa e respeito ao eleitor, cuja pregação pelo voto limpo lembra Fernando Ferrari (PDC-RS), candidato à vice-presidência em 1960, na célebre campanha que elegeu a dupla Jan-Jan (Jânio Quadros e Jango Goulart).

Na época, os candidatos a vice-presidente corriam em chapa própria, e o democrata-cristão apresentava-se como o "candidato das mãos limpas".

No começo da semana esteve em Curitiba o prefeito Nedson Micheleti, reeleito em Londrina, a rigor, único candidato do PT a obter vitória em município importante, posto que tivesse contado com o handicap de bater-se com Antônio Belinati, outrora um populista hábil na apropriação dos votos da massa, hoje amargando amplo descrédito. Pois Nedson afirmou que o PT terá candidato ao Palácio Iguaçu.

Decerto está cimentando o desejo quase impossível de ocultar do pretendido abandono da aliança que elegeu Requião há dois anos. Proposta que membros do comando estadual do partido, com raríssimas exceções, fazem questão de proclamar em alto e bom som.

Para o prefeito de Londrina, o PT poderá disputar com o deputado federal Paulo Bernardo, presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, reconhecido especialista em finanças públicas, de longe o parlamentar paranaense com maior visibilidade na atual composição da Câmara. O outro personagem obrigatório da conversa, e de reconhecido cacife, é o diretor-geral de Itaipu, Jorge Miguel Samek. Ambos amigos fraternos do presidente Lula.

Conversas de bastidores dão conta que – no frigir dos ovos o PT será convencido a refrear o ânimo separatista seguindo na aliança, bafejado pela candidatura à vaga única do Senado Federal. O nome da vez seria o de Samek.

O posto de vice continuaria com Orlando Pessuti, mas numa exegese passível de inegável ressentimento no arraial peemedebista, serviria como moeda de troca oferecida a outro partido.

Prosseguindo o cortejo da política estadual sem guinadas bruscas, Requião, Osmar, Samek ou Paulo Bernardo e Rubens Bueno, fora os indefectíveis candidatos nanicos, disputam o primeiro turno em 3 de outubro de 2006. A bolsa de conjecturas aceita apostas e a mais polpuda cerca a curva ascensional do senador. Botar a mão no fogo com tanta antecedência é exercício para quem se acostumou a caminhar sobre o fio da navalha.

A desculpa dos céticos, cada vez mais raros, é sacar da algibeira a manha da solércia mineira. Como dizia o governador José de Magalhães Pinto (aí, ó, detratores), o homem foi ministro das Relações Exteriores sem falar uma palavra de inglês: "A política é como a nuvem. Quando a gente olha está dum jeito, mas dali a pouco, é outro bem diferente". A versão é livre e se até o Banco Nacional foi à garra, ninguém vai aparecer para cobrar direito autoral.

O governador tem dois anos para consolidar o mandato até aqui encolhido pela insuficiência de obras de vulto, fruto da enorme dificuldade de obter excesso de caixa para investir ou porque a capacidade de endividamento do Estado não enseja excessos irrefletidos. A guerra contra as concessionárias do pedágio, sabiam todos, seria processo longo e desgastante, tendo em vista a comprovada sagacidade jurídica que orientou a feitura dos contratos.

A favor de Requião está a fluência do verbo, pois nisso tem desempenho admirável. Orador de recursos, dialético, panfletário articulado e incansável, o governador não se dobra aos obstáculos, sejam a corrupção, pedágio, soja transgênica, tráfico de drogas ou bingo, biombo da contravenção extirpado literalmente do Estado. Resta saber se esse tipo de discurso moralista continuará rendendo votos.

Ivan Schmidt é jornalista.