Exames ?falsamente normais? elevam o risco de infarto

Pacientes que realizam check-up semestrais ou, pior ainda, anuais, não estão realizando uma adequada medicina preventiva, mantendo elevado risco de infarto agudo do miocárdio e morte súbita. Podemos chamar esses exames de ?falsamente normais?, pois exames de maior precisão, como a cintilografia e a ressonância magnética cardíaca, nos têm surpreendido com doenças coronarianas graves em pacientes de alto risco, mesmo aqueles com aqueles exames de rotina normais e, em muitos casos, em pacientes sem sintomas ou com sintomas atípicos, o que dificulta o diagnóstico.

Isso porque, principalmente em pacientes com múltiplos fatores de risco, pode existir o que a cardiologia atual denomina de placa vulnerável, ou seja, placas obstrutivas discretas a moderadas nas coronárias, que não são identificadas nos exames de rotina, por exemplo, no teste ergométrico. No entanto, podem evoluir rapidamente (em poucos meses) para uma oclusão arterial, devido a um fenômeno chamado de trombose coronariana.

Esse distúrbio tem acontecido mais freqüentemente em pacientes idosos que, por serem sedentários, raramente desencadeiam angina (dor no peito irradiando para o braço esquerdo ou região do pescoço ou das costas), sendo totalmente assintomáticos ou, na maioria das vezes, apresentando simplesmente cansaço, falta de ar, palpitações ou sintomas de mal estar após refeições mais generosas.

Também são muito pouco valorizados os pacientes jovens, principalmente do sexo feminino, que apesar de apresentarem menor incidência da doença, apresentam alta mortalidade, devido ao atraso no diagnóstico do infarto agudo do miocárdio.

Tais pacientes devem ser reavaliados mensalmente, com rigoroso controle dos fatores de risco, com medicamentos e mudanças de hábitos de vida para atingir as metas determinadas pelos últimos consensos da cardiologia atual.

Além disso, exames seriados funcionais, como teste ergométrico e, se possível, realização de exames de maior acurácia, como cintilografia miocárdica ou estresse ecocardiograma, podem demonstrar doença coronariana grave não diagnosticada numa primeira abordagem.

Nos dias de hoje, dentre os métodos diagnósticos de maior valor para esse grupo de pacientes de alto risco, está a angiotomografia de coronárias. Esse exame não é invasivo e demonstra com grande sensibilidade a anatomia coronariana, presença de placas vulneráveis, investigação do risco de um evento coronariano em médio e longo prazo, além de poder avaliar o sucesso da terapêutica empregada.

Precisamos ter em mente que poucas especialidades evoluíram tanto do ponto de vista preventivo quanto terapêutico como a cardiologia. Mesmo assim, atualmente temos, no Brasil, aproximadamente 500 mil casos de infarto agudo do miocárdio por ano, ou seja, um infarto a cada 2 minutos.

Pior do que esses dados é o que demonstrou um estudo estatístico recente: somente 10% das vítimas do infarto recebem tratamento adequado (angioplastia ou trombólise), aumentando o número de complicações como insuficiência cardíaca e morte súbita.