“Deslembro” traz reflexões de um Brasil esquecido

Foto: Divulgação

A Ditadura Militar deixou grandes feridas na população brasileira. Os anos de chumbo trouxeram feridas capazes de nunca cicatrizarem. Diversas famílias tiveram seus entes desaparecidos ou exilados.  O fim do período militar e a redemocratização fizeram algumas pessoas retornarem ao país. Será que foi fácil esta volta?

A cineasta Flávia Castro retrata muito bem esta experiência em seu novo e primeiro longa-metragem de ficção, Deslembro. Filme que chega a Curitiba nesta quinta-feira, 19. Aos cinco anos de idade, ela foi exilada com sua família à França e só voltou ao Brasil na sua adolescência.

LEIA MAIS: O que chega na Netflix em julho

Flávia deixa claro que o filme não é uma autobiografia, mas sim uma adaptação ficcional. Deslembro mostra a vida de Joana, uma jovem que volta ao Brasil com a família do exílio em París, depois de decretada a anistia. Ao chegar ao Rio de Janeiro, a adolescente precisa se adaptar à cidade, da qual não se lembra. O contato com a sua avó paterna, ela começa a desvendar memórias e reflexões que foram esquecidas ao longo do tempo. Veja o trailer:

Em entrevista para o blog Não é Spoiler, a cineasta conta que a ideia em fazer o filme surgiu em 2009, quando estava trabalhando no documentário Diário de uma Busca.

Conhecidos por produzirem o elogiado e aclamado Central do Brasil, Walter Salles e Gisela B. Câmara trabalharam na obra de Flávia Castro. A cineasta conta que o primeiro contato com os produtores veio no lançamento de seu documentário Diário de uma Busca. “A Gisela trabalhava numa produtora e contei sobre a minha vontade de fazer o Deslembro. O Walter eu conheci através do meu documentário, pois foi distribuído pela empresa dele, a VídeoFilmes. Mostrei o roteiro pra ele e ele achou interessante”.

LEIA TAMBÉM: Filme curitibano concorre a três categorias na maior premiação do cinema brasileiro

A sua estreia na direção de um longa-metragem de ficção foi complicada, mas revela que se sentiu muito acolhida pela sua equipe que é formada majoritariamente por mulheres. “Foi um trabalho criativo, colaborativo muito surpreendente”, explicou.

O filme começou a ser rodado em 2017, e estreou em Festival de Veneza. No brasil, o longa foi exibido pela primeira vez na Mostra de Cinema de São Paulo, em 2018. “Ele está fazendo uma carreira muito bonita por festivais e agora está estrando no circuito comercial nacional”, finaliza.

Foto: Divulgação

Sobre o período histórico tratado na obra, Flávia Castro critica algumas pessoas que viveram e presenciaram as tragédias ocorridas na ditadura, e que acabam deturpando as atrocidades da época. Castro cita o atual Presidente da República, Jair Bolsonaro, “acho que ele age de má fé. Bolsonaro sabe exatamente o que foi a ditadura, até porque, ele fez aquele discurso criminoso no impeachment da Dilma, enaltecendo o único general condenado por tortura, o Brilhante Ustra”, completou.

No entanto, a cineasta também conta que falta informação sobre o que foi o período ditatorial. “Falta um trabalho de memórias. A gente teve a comissão da verdade, mas foi muito escasso, precisavam abranger mais. Teve a comissão da anistia que, por sinal, foi ótimo, pois levava a informação às escolas com depoimentos de gente que sofreu com a ditadura, mas precisamos de mais trabalho em cima disso. Assim como foi na Argentina e Uruguai”, exemplificou.

Deslembro não é só sobre um período histórico do Brasil, mas traz reflexões presentes na vida dos adolescentes. É sobre a busca do conhecimento, da felicidade, sua experiência com o mundo real. Como disse Flávia, “é a história de uma adolescente que teve a política entrelaçada em sua vida”.