Perto de completar 97 anos, Bar Casa Velha é patrimônio cultural de Curitiba

O Casa Velha, no bairro Abranches, em Curitiba, fundado em 1927, é patrimônio dos botecos. O imóvel simples de dois andares atrai olhares e curiosidade de uma região marcada por lendas como a da loira fantasma na década de 1970 ou mesmo dos bailes e festas do Abranchão que avançava a madrugada na beira da Rodovia dos Minérios. 

O “boteco dos polacos” como era chamado o Casa Velha, faz o cliente recordar momentos da infância e adolescência. Desde a entrada com vista para a Avenida Mateus Leme, em um entroncamento com o Cemitério do Abranches, ou mesmo ao dar o primeiro passo no piso de madeira dentro do bar, o estabelecimento “respira” cultura e história de Curitiba. Uma dica: Estar em um fim de tarde em uma das salas reservas do Casa Velha, proporciona uma explosão de sentimentos que aliviam a alma de qualquer um!

Próximo de completar 97 anos, o Casa Velha é a perfeita união da comunidade com o casal Aloisio Fernando Mickosz e Rosane Maria Bazanella. Fernando como é mais conhecido no bairro, é especialista em boteco raiz, ou melhor, a família Mickosz tem doutorado em bar. 

“Quem começou na época de Armazém de Secos e Molhados foi um primo do meu pai. Ficou alguns meses e foi morar no Litoral. Depois teve outras famílias no negócio até chegar em um homem que trabalhava em cassino lá em Santos. Ele não atendia muito bem e ficava jogando cartas, atrasava os pedidos. Lembro que ele ficava naquela mesa perto da porta, eu já frequentava o bar”, disse Fernando, que na época trabalhava em uma multinacional na década de 1980.

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Fernando comentou com os amigos do bairro e do bar sobre o desejo de ser o “dono do próprio nariz”. Estava propenso a entrar em uma licitação para virar dono de banquinha de jornal e revistas. Em 1991, ao passar pelo Casa Velha, o dono que era ruim no atendimento fez a proposta que mudaria o rumo da família.

“Eu estava passando pelo bar quando o dono fez a oferta para eu comprar. Recusei de primeira, mas poucas semanas depois aceitei. Nos tempos atuais, seria uns R$ 60 mil, paguei uma parte e parcelei o restante. No meu primeiro dia de dono, o bar lotou de amigos que ficaram sabendo da novidade”, relembrou Fernando, que chegou a ser presidente da Sociedade Cultural Abranches, o Abranchão, vizinho de esquina do Casa Velha. 

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Combo da Felicidade, elevador e loira fantasma

O Casa Velha é o típico lugar que o cliente fica fascinado a cada olhar.  São itens raros nas prateleiras como máquinas de datilografia, telefones, relógios, canecas, rádios, troféus e quadros de conquistas esportivas e botequeiras. Na maioria, doações de clientes que preservaram a história das famílias em cada canto do bar. “As pessoas sabem quem a gente vai cuidar, temos carinho pelos objetos. Esse é um dos nossos segredos: a simplicidade. Não pensamos em alterar nada, do piso ao teto. Sinto até hoje pelo balcão refrigerado de madeira que estava estragando e fui obrigado a mudar”, lamentou Fernando. 

No bar, os petiscos e a feijoada servida aos sábados saem da cozinha por um pequeno elevador que demora aproximadamente 40 segundos para chegar ao salão. O motor é semelhante aos usados nos portões de casa.  É comida é quente e apetitosa, com sabor caseiro servido na maioria pelo Bruno, garçom do Casa Velha há 12 anos.

Um dos preferidos dos clientes é o Bola Cheia (um bolinho de carne recheado com queijo provolone), premiado em concursos. No cardápio que não é digital, destaques ainda para croquete de carne de panela (Nota 10), torresmo da casa e o bolinho de mandioca com carne seca. Para o Comida Di Buteco 2024 que começa na sexta-feira (05), o prato é o Quarteto Fantástico (bolinho de frango, bolinho de peixe, acompanha polenta frita e torresmo). “É para todos os públicos, estamos ansiosos e preparados para atender”, disse Rosane. 

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Quem não vai conseguir provar os petiscos é a maior lenda urbana do Abranches. A loira fantasma, uma mulher de cabelos claros que entrou em um táxi na Praça Tiradentes, em 1975. Ao chegar no cemitério do bairro, o taxista percebeu que não tinha ninguém no banco traseiro. Ali deu início a uma dos principais contos da capital paranaense. “Eu já conversei com ela. Nunca bebeu no bar, mas ela contou a história com o taxista que ficou famosa. Muitos aqui ficam vagando pelo bar pela bebida”, brincou o proprietário. 

O Casa Velha é patrimônio de Curitiba, uma valiosa história de vida e superação. “Aqui é a minha vida, eu gosto tanto que estou há 33 anos no balcão mesmo depois de ter quebrado a perna, fraturado sete costelas,  furado o pulmão e ter tido um AVC ”, completou Fernando, o guerreiro do Abranches e companheiro da vibrante Rosane. 

Casa Velha

Endereço: Rua Mateus Leme, 5981, Abranches, Curitiba

Funcionamento: segunda a sexta-feira das 17 horas até 23h30; sábado das 12h até 23h30

Instagram : casavelha_cwb

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