Uma noite de Walt Disney

Não sei se é uma história ou é uma lenda. Seja o que for, vou contar uma das versões. No início dos anos setenta, Valdir Pereira eternizado como Didi na história, foi treinar o River Plate. Sua missão era criar uma nova geração de craques, que devolvesse ao time de Nuñez o prestígio do futebol argentino. Antes de um jogo contra o arqui-rival Boca Juniors, no “La Bombonera”, Didi reuniu seus garotos e disse: “Não temam a arquibancada. Joguem para mim.” Emocionados, aqueles meninos jogaram a partida da vida. Ganharam: 2×0. No dia seguinte, o Clarín estampou uma foto de Didi erguido pelos garotos e a manchete: Uma noite de Walt Disney.

Neste futebol enlouquecido pelas flutuações diárias, que jogam e brincam com os nossos sentimentos, reencontramos a realidade quando menos esperamos. Parece-nos tão longe e tão distante, mas, no entanto, está ao nosso lado.

Atleticanos e coxas viviam vidas diferentes: aqueles, entediados e amargurados por derrotas, esses alegres e em festa por vitórias.

Um Atletiba mostrou que algumas realidades fantasiam-se. O Atlético, é o campeão do histórico Torneio Sesquicentenário, jogando uma partida irrepreensível no Pinheirão, 2×1. Seus meninos pareciam aqueles meninos de Didi. Jadson, Alessandro, Alan Bahia e Rodriguinho passearam no Pinheirão. Espontâneos, pareciam um bando de garotos em férias conhecendo o mundo encantado de Walt Disney. Deram um show no time titular do Coritiba, que recém tinha ganhado a vaga para a Libertadores: Fernando, Edinho Baiano, Roberto Brum, Ricardo, Maurinho e Jackson, submeteram-se aos caprichos dos atleticanos.

Jadson foi o espetáculo. Buscando voluntariamente os espaços, liberado pelo esquema tático, organizou a roda para a qual o Coritiba foi atraído para dançar. Tonto, caiu.

Lembrei da poesia de Alberto Caeiro: “A espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias. Cada coisa é o que é. E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra e quanto isso me basta.”

Os meninos atleticanos carimbaram o passaporte dos coxas com uma saudação: boa viagem.