Retomada

O velho simbolismo de não querer confundir continuísmo com continuidade foi a expressão nuclear da primeira aparição pública do novo presidente do Conselho Gestor do Atlético, João Augusto Fleury da Rocha.

Fleury não pode correr o risco de começar com equívoco. Continuação e continuísmo são conceitos de mesma natureza. Mudam sob o aspecto cultural e político. Então, continuação projeta a conexão de coisas contínuas, que devem durar. Continuísmo é persistir em uma situação, apesar da necessidade de mudanças.

Até abril de 2002, notório era como as coisas funcionavam no Atlético: as idéias só prevaleciam depois de debatidas, as propostas só eram aprovadas depois de questionadas. De maio de 1995 a abril de 2002, foi construído o CT do Caju, a Arena, conquistados quatro títulos estaduais, o seletivo nacional, o Brasileirão, disputou-se duas Libertadores.

Em sentido contrário, administrou-se nos últimos dois anos. Foi pela absoluta falta de contestação que o Atlético foi paralisado: não ganhou um único título de expressão, está fora da Copa do Brasil e dos torneios continentais, e a finalização da Arena ficou em diversas promessas.

O novo Conselho de Administração é um grupo que reúne pessoas de bem, vencedores na vida profissional, atleticanos de ideal. Mas o que não podem é tornarem-se vulneráveis à idolatria pelo que se fez no passado recente. Respeito é uma coisa, não inibe direitos; veneração é outra, cega para a verdade. Esses atleticanos não foram eleitos para administrar memória, ídolos, orgulho e vaidade.

Manter o que está é continuísmo. Não estou querendo remoer fatos. Nem quero repetir críticas. O que tinha que escrever, já escrevi. O que não se pode é fragmentar esses fatos, transformá-los em poeira e jogá-los para debaixo do tapete. Tudo o que ocorreu na última administração não foi culpa só de quem exerceu o poder, mas, também de quem se omitiu.

Os novos administradores precisam retomar a continuação dos ideais iniciais que sem Mário Celso Petráglia não evoluiriam, mas pelos quais Valmor Zimermann, Ademir Adur, Enio Fornea Junior, Marcos Coelho, Marçal Justen Filho, Guivan Bueno, Samir Aidar, Valdo Zanetti e tantos outros, sacrificaram-se com perdas de toda a natureza. E hoje na mais ostensiva prova de ingratidão, estão isolados da história do clube.

Fleury e seus companheiros têm que ganhar a consciência de que divergir não é ofensa, contestar não é faltar com respeito. Exercer o direito de dar opinião, de questionar, de idealizar, mesmo que seja vencido, é a obrigação de todos. Foi por isso que o Atlético se tornou um dos maiores do Brasil.