O Pequeno Príncipe

Bem que a saga de 2001 do Furacão poderia ser contada como um conto de fadas. Mas, aí, lembramos da bela lição que um dia aprendemos com Antoine de Saint-Exupéry, lendo o seu ‘O Pequeno Príncipe’: “Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida”.

23 de dezembro de 2001: Atlético Paranaense, campeão do Brasil.

Poderia, outra vez, ter sido campeão em 2004. Poderá ser outra vez, e será, campeão no futuro, mesmo que esse possa estar bem distante. Mas nenhum título, por mais grandioso que seja, será igual àquele de 2001, arrematado com o gol de Alex Mineiro, em São Caetano do Sul. Não haverá um outro título brasileiro como aquele na vida do Furacão.

Originário de um sonho, depois adotado como fato real por uma torcida doida de paixão, a história desse título continua sendo alongada para que, como toda a bela história, transforme-se e seja contada como uma lenda. Agora, quinze anos depois, qualquer narração obriga-se a afirmar que o título de 2001 tornou-se o símbolo mais nobre da sua história.

Lembram que tudo aconteceu de repente? Parecendo que avaliava o que lhe restava de vida, e tentando dar um sentido à luta pela sua existência, o Atlético na fase final tornou-se o Furacão em sua mais grandiosa versão: invencível, derrotou até o acaso.

Vestindo a camisa rubro-negra, também por amor, foram à luta: Flávio, Alessandro, Gustavo, Nem, Rogério Corrêa, Fabiano, Cocito, Kleberson, Adriano, Kleber e Alex Mineiro. Tinha Igor, Pires e Ilan. E tinha mais alguém com uma canhota que parecia ser tratada com água benta.

Como se estivessem compondo mais um canto da “Odisseia”, regidos por Geninho, levaram o Furacão arrasar um a um na Baixada: o São Paulo (2×1), no jogo que Cocito fez o intocável Kaká chorar, o Fluminense (3×2), o jogo em que Alex Mineiro apresentou um capital de gols históricos, e o São Caetano (4×2), à partir de um passe saído da canhota franciscana de Souza. O seu passe de calcanhar para Alex Mineiro marcar contra o São Caetano, na Baixada, nem a morte será capaz de fazer esquecer.

No corolário, na vitória de 1×0 em São Caetano, já estava tudo consumado. Se fosse para ocorrer alguma desgraça, Deus já estava de prontidão para intervir. O Atlético foi tão fogoso, foi tão brilhante, foi tão exaustivo no físico e na alma, que, ao ser campeão do Brasil, parecia estar fazendo uma tradução bíblica.