Natal

O poeta Fernando Pessoa sofria nesta época de Natal. Então, cambaleando de tristeza, perto do riacho do seu bairro “mais importante que o Tejo”, em uma noite de um certo Natal, escreveu:

“Natal. Na província neva.
Nos lares aconchegados
Um sentimento conserva
Os sentimentos pesados.
Coração oposto ao mundo.
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo
Por isso tenho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei.”

O segredo de gostar ou não gostar do Natal é o sentir ou o não sentir saudades. Eu gosto de sentir saudades. De alegria ou de tristeza. Não importa de onde vêm e porque vêm. O que importa é que cheguem. Afastam-nos de algumas ilusões, embora seja bom também ter ilusões. O significado de sentir saudades é que temos sentimentos. É a própria vida. A vida que vivemos e não a vida que gostaríamos de viver. Neste mistério, existe só uma verdade: a palavra de Deus. As nossas são apenas ecos. Nada mais.

Aos meus leitores, Feliz Natal.