Jogo de risco

O diagnóstico é grave, amenizá-lo com retórica, só agrava a situação. O confronto entre a diretoria do Atlético e a organizada Fanáticos, não pode ser tratado de mera desarmonia. Quando um caso vai acabar na polícia é que foi além das controvérsias. O motivo aparente, embora seja a torcida pelo Furacão, é mentiroso. O motivo de fundo é que interessa.
De um lado, o clube, que não transigindo com o disfarce para o uso da sua marca, não permite que os torcedores disponham do uniforme que preferem. Daí ocorrer uma verdadeira agressão à dignidade humana na entrada da Baixada, quando todos são fiscalizados, e têm roupas e adornos subtraídos; do outro, a torcida “Os Fanáticos”, que até um dia desses constituía um dos segmentos mais importantes do clube pelo seu poder de incentivo, mas que agora estão minguando por não poderem comercializar os seus produtos.
Já escrevi que era a favor da diretoria. É que eu imaginava que o tratamento aplicado era para trazer segurança ao público comum. Mas contraditória, um dia desses contratou a bateria da torcida para animar uma festa. Quer dizer: a torcida que havia sido colocada à margem, foi reconhecida, outra vez. Essas contradições é que fazem esvaziar o respeito por algumas atitudes que parecem radicais dos dirigentes.
A situação é grave, não se pode negar. Temerária, assusta. Um jogo simples contra o Flamengo já sugere cautela da segurança. Um jogo como esse que pode colocar o Furacão na Libertadores da América, e promete o maior público na Baixada, cria um ambiente de medo, imprimindo-lhe características de alto risco.
É impressionante a falta de sensibilidade dos cartolas do Atlético. Como se fossem produtores de tragédias gregas, combinam o grandioso com o funesto. Conseguem criar uma tensão em um jogo que tem que ser humanizado pelo clima de solidariedade que se espalhou no Brasil.