Diagnóstico II

A paixão pelo time de coração não é barata. Exige sacrifícios emocionais e financeiros. Os traumas de uma derrota são absorvidos com uma simples vitória. O sacrifício financeiro é que às vezes asfixia o torcedor: quando seu time perde, falta-lhe conforto para justificar o gasto material.

Não existe torcedor no Brasil mais exigido financeiramente do que o do Atlético. Desde 1999, quando foi inaugurada a Arena, paga quinze reais por jogo. Sempre defendi a intransigência (e ainda a defendo) deste preço: paga-se pelo conforto e pagava-se pela exposição de ídolos e grandes jogadores, que deram ao clube um repertório de títulos, inclusive o brasileiro de 2001.

Desde abril de 2001, não se conciliam mais prestação e contraprestação. O torcedor continua pagando o mesmo preço, sem receber nada em troca. Ao contrário, viu a saída de ídolos como Gustavo, Kléber, Kléberson, Fabiano e Souza por Tiago, Ricardinho “rei do drible”, Douglas Silva, Ivan, Luciano Santos e Alan Bahia. Viu o clube trocar os títulos e as grandes campanhas pelo 17.º lugar no brasileiro de 2002, pelo humilhante sexto lugar no Estadual de 2003 e agora o 18.º lugar no brasileiro de 2003.

A torcida do Atlético é fiel e honesta. Não condiciona o exercício de sua paixão. Não vê hora, lugar, preço e nem circunstâncias para apoiar o seu time. Por isso, é dona do maior público da história de todos os estádios em Curitiba. Do Alto da Glória ao Boqueirão. Atualmente, proporciona a maior média de público em Curitiba, significado que aumenta em relação à péssima campanha técnica do time.

A torcida atleticana não é tratada com lealdade. A decadência técnica do futebol do clube é uma manifesta falta de respeito. O que se fala, o que vai se fazer, é populismo. E populismo é uma forma de demagogia. Nabucodonosor era assim: enquanto construía os Jardins Suspensos da Babilônia, o povo morria de fome. A torcida do Atlético não merece continuar tendo os seus sentimentos manipulados e humilhados toda vez que se reúne na Arena para o exercício desta incontrolável paixão que se chama Clube Atlético Paranaense.

Amanhã, tratarei de como a vaidade e o orgulho podem ser mais fortes do que o amor por um clube.