Opinião

O último recomeço

Foto: Albari Rosa / Foto Digital / Tribuna do Paraná.

Uma das maiores ilusões dos jovens no futebol brasileiro, é quando lhe afirmam que é um jogador do futuro. Para as últimas gerações o tempo passa, mas esse futuro, às vezes nunca chega, ou quando chega, é tarde demais. Quando jogadores desapareceram no meio dessa nuvem de ilusão.

Quando foi lançado no Botafogo, o atacante Sassá, tinha mal saído do berço. Jovem, era um centroavante do futuro. De fracasso em fracasso, com gols eventuais e algumas arruaças no campo, aos 26 anos quer recomeçar no Coritiba.

O recomeço no futebol tem história. Exilado em Viena e suspenso por um ano do futebol pela Fifa a pedido de Stalin, o imortal Puskas recebeu a visita de Santiago Bernabéu, presidente do Real Madrid. Convidado para voltar a jogar: “O futebol, rende tantas ilusões, que é o único lugar em que sempre é possível recomeçar”.

Mas, Puskas era outra coisa, todos sabem. Por aqui, quando um jogador trata do recomeço, lembro do saudoso Assis, do Athletico. Quando jovem, exiliado nos grandes centros, jogando pelo São Paulo e Internacional, deixou o grande exemplo de recomeço: aos 28 anos, jogando pelo Furacão e pelo Fluminense, foi um dos grandes meias de 1982 a 1985, do futebol brasileiro.

Eu sei, Assis, também, era outra coisa. Jogando bola, era o que Jorge Valdano diria, um poeta. Mas, de repente, Sassá, um peão de obra, pode fazer algumas artes que ninguém imagina. No Coritiba, jogando no espaço em que jogou Tião Abatiá, pode ser o último recomeço de Sassá.

Discriminação

Um dia desses, o treinador Roger Machado, ao tratar sobre o racismo no futebol, afirmou que “o futebol embranquece o negro”. O notável ex-meia Tinga (Inter e Cruzeiro), entrevistado pelos repórteres Bruno Rodrigues e João Gabriel, da Folha de São Paulo (21/1/2020), respondeu: “Não acho que tudo o que a gente não gosta é preconceito. Consigo medir o cara que me chama de “negão” me botando para cima e o cara que me chama de “negão” me botando para baixo. A gente precisa parar de contar mentiras para nós mesmos. Que nós somos todos iguais. Agora, o ruim é chamar que a minha diferença é melhor que a sua.”.

No futebol, às vezes, o negro, involuntariamente, estimula a discriminação. É uma forma de auto-discriminação.