Pré-avaliação é fundamental para evitar morte súbita no esporte

Para nós, brasileiros, o caso mais alarmante foi o do jogador de futebol Serginho, do São Caetano. Antes dele, as dramáticas cenas, ao vivo, transmitidas pela televisão, que vitimaram o atleta do Benfica de Portugal, Miklos Fehér, e o camaronês Marc-Vivien Foe. Todos eles foram vítimas do que os médicos logo batizaram de morte súbita no exercício e no esporte (MSEE) ? definida como a morte que ocorre de modo inesperado, de 6 a 24 horas após prática de uma atividade físico-desportiva.

O tema foi motivo de intensas discussões no meio médico e teve como conclusão a elaboração de uma diretriz, pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME), prestando esclarecimentos, tanto a profissionais da área da saúde quanto à população em geral, sobre tais acontecimentos. Uma das definições do documento é de que, apesar de ser um evento que traz grande repercussão e comoção, especialmente quando ocorre em atletas competitivos, a MSEE é uma situação rara e que não existem dados estatísticos confiáveis que indiquem que sua freqüência venha aumentando.

Avaliação pré-participação

No documento, os especialistas fazem questão de reconhecer que a prática de atividades físicas é uma das ações mais eficientes para se obter melhoria nas condições de saúde da população. ?E por isso deve ser sempre estimulada?, recomenda Marcelo Leitão, presidente da SBME-PR. Para tanto, o médico recomenda que uma avaliação pré-participação ?sistemática e periódica? nessas atividades seja a estratégia mais eficiente para se prevenir tais ocorrências. ?Essa avaliação deve ser realizada, por médico com experiência na área, em todos os indivíduos que praticam exercícios e esportes, em qualquer nível?, salienta.

Dependendo das características do praticante avaliado, o médico deve solicitar ou não uma série de exames complementares. Marcelo Leitão também ressalta que é importante que se esclareça definitivamente que para pessoas saudáveis que praticam qualquer atividade física, seja para fins competitivos ou não e independentemente da intensidade, o risco de morte súbita é inexpressivo. Ao contrário, quem pratica exercícios regularmente apresenta menor propensão à MSEE do que pessoas sedentárias.

Sedentários correm mais riscos

O cardiologista curitibano Pedro Vicente Michelotto, um dos especialistas que mais batalharam para a publicação dessas diretrizes, explica que para praticantes de atividades físicas com idade inferior a 35 anos, as causas mais freqüentes de MSEE são as chamadas cardiopatias congênitas, aquelas anomalias cardíacas que, apesar de nascerem com a pessoa, podem levar anos para se manifestar. ?Acima dessa idade, a causa mais freqüente é a doença arterial coronariana, ocasionada, principalmente, pelo entupimento das artérias que levam sangue ao coração?, relata.

No rol das doenças que podem levar à morte súbita de atletas estão também descritas nas diretrizes da SBME a doença de Chagas, os diversos tipos de arritmias cardíacas e o uso de drogas ilícitas, como cocaína, anfetaminas e esteróides anabolizantes. Estatísticas não-oficiais apontam que a MSEE tem incidência de um caso para cada duzentos mil praticantes. ?Bem diferente dos riscos que corre uma pessoa que não pratica nenhuma atividade?, enfatiza Michelotto, tomando por base estudos realizados nos Estados Unidos, que constatam a morte, por conseqüência do sedentarismo, de cerca de 250 mil pessoas por ano.

Avaliação clínica e treinamento para emergências

De acordo com as diretrizes da SBME, a avaliação pré-participação deve contemplar variações, conforme o nível de intensidade da atividade física a que a pessoa será submetida. Sempre deve ser atentado para as características da modalidade a ser praticada, a faixa etária e outras características individuais do praticante. Essas informações avaliadas cuidadosamente por meio de uma entrevista e avaliações físicas devem complementar a avaliação clínica para elevar o grau de confiabilidade na liberação das pessoas para a prática de exercícios e esporte. No caso de qualquer suspeição para situações de risco, os praticantes devem ser submetidos a exames complementares, obrigatórios, dependendo da avaliação de cada caso.

Para a SBME, a questão fundamental para se liberar as pessoas para práticas esportivas é a avaliação clínica, tanto pela facilidade com que é realizada quanto por seu custo, bastante acessível à população. As diretrizes recomendam que esse tipo de avaliação deve ser estendido a todos os praticantes de atividades físicas, independentemente da idade, da condição sócio econômica ou da periodicidade com que a pessoa vai se dedicar à atividade. Para Marcelo Leitão, a forma mais eficaz de se prevenir a MSEE é criar o hábito de se realizar avaliações médicas periódicas (no mínimo anualmente) e conhecer suas reais condições de saúde para a prática de qualquer tipo de atividade física.

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