Odores agravam a enxaqueca entre os homens

“Comecei a sofrer de enxaqueca quando tinha 13 anos de idade”, conta S. M. C., acadêmica de Direito. Ela conta que, no início, os sintomas não eram tão severos nem frequentes.

Quando chegou a época do vestibular, se agravaram. Para a estudante foi um ano muito estressante. Depois de passar por alguns exames e consultas, a doença foi diagnosticada.

“O neurologista me encorajou a manter um diário sobre a doença. Como resultado, foi encontrado um padrão para os ataques: noitadas, muitas horas de estudo, sono irregular e alguns hábitos alimentares foram todas as causas que desencadeavam os episódios”, relata.

Depois de um tempo difícil com a enxaqueca, com o tratamento adequado, o acadêmico conta que passou de um episódio por semana para duas crises a cada ano.

Uma das causas mais importantes para o surgimento da enxaqueca é o estresse. Essa condição faz parte da vida cotidiana, tão inevitável quanto os congestionamentos no trânsito, as contas a pagar e o telefone tocando sem parar, entre outras situações estressantes.

Os especialistas indicam que, em doses limitadas, o estresse pode ser útil. Para muitas profissões, executar o trabalho sob pressão traz bons resultados, deixando-os mais vigilantes.

Ao contrário, o estresse crônico, no entanto, causa transtornos importantes, afetando o organismo. Cada vez mais, o estresse está ligado a uma série de condições médicas, incluindo dores de cabeça e enxaquecas. O começo dos sintomas pode vir com uma dor de cabeça, que gera mais estresse, que piora a dor e, assim por diante, um ciclo vicioso.

Fatores desencadeantes

Nesta semana, a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) apresentou o primeiro estudo que avalia o impacto dos odores em homens com enxaqueca. Os cheiros são fatores tanto desencadeantes quanto de piora de crises de dor de cabeça para aproximadamente 33% dos entrevistados.

Realizada pela neurologista Yára Fragoso (coordenadora do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Santos) em 2010, a pesquisa avaliou 96 homens e revelou que os enxaquecosos do gênero masculino são mais sensíveis a odores do que as mulheres.

Em 48% dos casos, são os principais responsáveis pelo surgimento das crises de dor. Estão relacionados também ao seu agravamento em 73% das crises. Características comportamentais, como alimentação e consumo de álcool, também se destacaram entres os principais gatilhos para a ocorrência do distúrbio. Hoje, no Brasil, cerca de quatro milhões de homens sofrem com esse tipo de cefaleia.

Impacto dos odores

O estudo considerou homens com idade de 18 a 92 anos que tiveram, pelo menos, quatro crises de enxaqueca em um ano. Não foram incluídos homens com dores de cabeça crônica.

Co-autores do estudo, os estudantes de medicina Andressa Marmore de Lima, Giovanna Baptista Sapienza e Vinicius de Oliveira Giraud submeteram os participantes a questionários sobre as características de suas dores de cabeça. Eles não foram informados sobre o objetivo de investigar o impacto dos odores de maneira a não interferir em suas respostas.

Como esperado, a pesquisa apontou que o estresse é o mais frequente fator de desencadeamento da enxaqueca, de um modo geral. Nos homens, é responsável por 59% das origens das crises.

O excesso de luminosidade é o maior causa de agravamento da dor (74%). Ao confrontar o atual levantamento com estudo precedente da coordenadora, que considerou os dois gêneros, observou-se maior sensibilidade masculina aos odores – sobretudo de perfumes, fumaça de cigarro e de produtos de limpeza. Os cheiros são o segundo agente mais comum no surgimento e piora da enxaqueca. Entre as mulheres figura o choro e o barulho, respectivamente.

Tratamento individualizado

Segundo o coordenador do Departamento de Cefaleia da ABN, Elder Sarmento, os enxaquecosos apresentam um quadro de cérebro hiperexc,itado que leva os pacientes a terem sensibilidade excessiva aos estímulos do ambiente, como luz, cheiros e sons.

O especialista explica que diferenças hormonais, culturais e ambientais podem resultar as variações nos gatilhos que incidem sobre o distúrbio em ambos os sexos.

A pesquisa santista revela ainda que a alimentação (42%) e a ingestão de álcool (31%) aparecem entre os cinco principais fatores de surgimento da enxaqueca em homens.

No que diz respeito à elevação da dor, esses índices são de 32% e 31%, respectivamente. Em meio ao universo feminino, comida e álcool não aparecem com semelhante importância nos mecanismos ligados a esse tipo de dor de cabeça.

De acordo com a conclusão do estudo, a conscientização nos pacientes quanto à piora dos casos de enxaqueca devido aos cheiros contribuiriam para uma qualidade de vida mais favorável.

“O tratamento para a enxaqueca necessita ser multifacetado e não visa somente a medicação, mas a individualização de medidas, como verificação de seus fatores agravantes e desencadeantes de dor, hábitos saudáveis de vida e regulação das horas de sono, entre outros.

Por ter sua incidência ligada a fatores genéticos, a enxaqueca não tem cura. O tratamento mais indicado é o preventivo, ou seja, aquele que ataca os fatores desencadeantes das crises.

Criança também sofre

Durante muito tempo, se pensou que a queixa de dor de cabeça era exclusiva dos adultos. De fato, acreditava-se que as crianças não sofriam de dores de cabeça e essa “certeza” durou por décadas.

No entanto, de acordo com estudos epidemiológicos internacionais, estima-se que 5% das crianças sofram dessa patologia. Na adolescência, os números aproximam-se dos da idade adulta, chegando a 18%.

De acordo com os neurologistas, as circunstâncias que podem levar ao surgimento da doença são as predisposições genéticas, viroses, meningite, traumatismos e alterações oculares, entre outras disfunções.

Conforme os especialistas, as cefaléias primárias, em que a criança tem um episódio que começa e termina, não passando habitualmente para o dia seguinte, sem ter um caráter progressivo, são as menos preocupantes. A recomendação é de que, se a reclamação se tornar rotineira, o melhor é passar por uma avaliação clínica que fundamente uma investigação mais detalhada.

Enxaqueca é diferente de dor de cabeça

A enxaqueca apresenta uma dor de cabeça latejante de um lado, é episódica e dura horas ou, mesmo, dias, com algumas tréguas entre os “ataques”. A dor de cabeça é normalmente agravada pelo movimento ou atividade física.

A enxaqueca tem sido comparada a um corte de energia, como o corpo inteiro parece desligar até que o ataque é longo. A dor de cabeça é, claro, apenas um dos sintomas, embora o mais conhecido.

As fases do distúrbio

Fase premonitória – na fase premonitória são sintomas que antecedem as dores de cabeça entre seis e 48 horas antes do início da cefaléia. Os sintomas mais presentes são fotofobia e osmofobia.

Fase de aura – é uma manifestação clínica em que o paciente apresenta alterações visuais que antecedem a dor de cabeça do paciente em até 60 minutos. A aura visual tem uma duração de cinco minutos até uma hora.

Fase de cefaléia – A dor de cabeça da enxaqueca tem duração de quatro a 72 horas nos adultos e de duas a 48 horas na faixa etária que vai até 14 anos. A cefaléia é pulsátil, com náuseas e vômitos, fotofobia e fonofobia. Os sintomas se agravam quando se pratica atividade física.