Obesidade pode causar disfunção erétil

“Um homem com baixos índices de testosterona pode ser considerado um carro sem gasolina”, compara a Svetlana Kalinchenko, chefe do departamento de Andrologia e Urologia do Scientific Research Center of Innovation, na Rússia.

Suas pesquisas tratam das disfunções sexuais em homens. A cientista observou, entre outras coisas, a relação entre o tamanho da circunferência abdominal e a secreção de testosterona.

A conclusão – apresentada no Congresso Internacional de Endocrinologia, realizado no Rio de Janeiro – não vai agradar os “gordinhos”: quanto maior a “barriguinha” mais probabilidade de sofrer disfunção erétil. “A constatação dessa relação tem implicações, não só na qualidade, mas, também, na duração de vida dos pacientes”, alerta.

Pois estudos científicos, citados pelo endocrinologista Ricardo Meirelles, professor da PUC-Rio e futuro presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), dão conta que homens obesos têm níveis menores de testosterona.

“Com efeito, há indícios ainda de que a disfunção erétil pode ser o primeiro sintoma e tem importante relevância na detecção de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2”, adverte o médico.

Síndrome metabólica

No homem, o papel mais conhecido da testosterona é o de garantir as características próprias do sexo masculino, como pêlos no rosto, voz grossa e potência sexual, mas esse hormônio também tem vital importância no desempenho de outros órgãos, como cérebro, ossos, músculos e rins, entre outros.

Um estudo alemão, também apresentado no congresso, colocou mais lenha nessa fogueira, comprovando a relação entre níveis de testosterona e taxas de proteína C-reativa, um fator inflamatório ligado ao aumento do risco cardiovascular.

De acordo com o pesquisador na área da endocrinologia Farid Saad, diretor da área de Andrologia da Bayer Schering Pharma na Alemanha, o estudo acompanhou 117 pacientes com distúrbio androgênico do envelhecimento masculino (Daem) durante 15 meses.

Neste período, eles receberam a terapia hormonal com undecilato de testosterona (princípio ativo do medicamento Nebido).

“Ficou clara a redução das taxas de proteína ligada ao risco cardíaco no sangue, bem como dos sintomas do envelhecimento, conforme os níveis de testosterona foram normalizados nos pesquisados”, conta.

Vários estudos demonstram que a queda das taxas de testosterona no organismo masculino não está associada só ao avanço da idade.

Essa diminuição está ligada também a males crônicos, especialmente àqueles que representam alto risco para o desenvolvimento da síndrome metabólica (diabetes tipo 2, obesidade, hipertensão e colesterol alto).

Terapia hormonal

Farid Saad aponta ainda que estudos pilotos usando testosterona em homens com deficiência de testosterona com ou sem obesidade abdominal, doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2, sugerem melhora global da síndrome metabólica e doenças relacionadas.

Assim, processos inflamatórios agudos contribuem para o desenvolvimento de aterosclerose e para o envelhecimento de modo geral. “O tecido adiposo acelera a produção de fatores inflamatórios, entre eles a proteína C-reativa”, afirma.

O endocrinologista Ricardo Meirelles diz que o importante é que as pessoas com distúrbios de natureza sexual devem buscar com confiança um médico especialista para resolver ou melhorar a situação.

A introdução de um tratamento específico para restabelecer os níveis de testosterona em homens que apresentam queda das taxas desse hormônio no organismo é recente.

Esse fenômeno, conhecido por andropausa atinge até 33% dos homens acima de, 60 anos e pode trazer sintomas como depressão, irritabilidade e dificuldade de concentração, além de agravar doenças crônicas como a síndrome metabólica e aumentar o risco cardiovascular.

Terapia hormonal contra o diabetes

Dentre os efeitos em longo prazo da terapia hormonal em homens com baixos índices de testosterona observa-se: melhora da densidade óssea, da composição corporal, das funções sexuais e aumento da energia e vigor de modo geral.

No entanto, o especialista alemão Farid Saad destaca os aspectos que vêm sendo investigados recentemente como os efeitos antidiabéticos e redutores da aterosclerose da testosterona como os mais significativos para a saúde do homem maduro.

“Acredito que em alguns anos será possível utilizar a terapia hormonal como adjuvante para tratar o diabetes e combater a obesidade em homens que apresentam déficit de testosterona”, conclui Saad.

O “combustível” do homem

A testosterona é o hormônio masculino mais importante, produzido pelos testículos e pelas glândulas supra-renais. Ela é responsável pelas características sexuais secundárias – como engrossamento da voz, crescimento de pêlos e barba, entre outras – e pelo desenvolvimento da próstata e dos órgãos genitais.

Daí a importância do hormônio na função reprodutiva do homem, já que a próstata sofre a ação da testosterona para produzir substâncias essenciais para a nutrição dos espermatozóides. Além disso, colabora para o aumento da massa muscular e óssea masculina.

O nível ideal de testosterona total deve ser acima de 300 ng/dL (nanogramas por decilitro de sangue). Taxas entre 200 e 300 ng/dL indicam a necessidade de uma investigação mais profunda sobre a existência da deficiência desse hormônio. Quando o homem apresenta menos de 200 ng/dL, ele está com deficiência hormonal e precisa de tratamento.

Déficit de testosterona é um problema sério que precisa ser tratado. Quando ele vem após os 40 anos de idade e acompanhado de queixas, como diminuição da libido, dificuldade de ereção, cansaço, estado depressivo, desânimo, perda da força muscular e sinais de osteoporose.

O não tratamento provoca uma queda significativa na qualidade de vida do homem maduro. Além disso, parece existir uma relação da baixa de testosterona com o aumento do risco de doença cardiovascular, considerada maior responsável pelas mortes nessa faixa etária.