O especialista: Convivendo com a culpa

Se a mulher tomou a decisão de fazer o aborto, irá fazê-lo, independente do que os outros pensem. Ela precisa admitir o fato e aprender a lidar com a culpa que sente. O propósito da ajuda, por meio da psicoterapia, é superar os efeitos adversos da culpa não admitida. A mulher poderá, com o passar do tempo, diminuí-la, embora jamais esqueça do fato ao longo de sua vida. O aborto é proibido no Brasil, por isso é realizado em clínicas clandestinas, com pessoas despreparadas usando equipamentos sem a devida esterilização. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, mais da metade dos casos de gravidez não planejada são interrompidos por meio do aborto induzido.

O levantamento da OMS aponta que 18 milhões dessas mulheres o fazem sem qualquer tipo de segurança. Para concluir os alarmantes números, 68 mil morrem em conseqüência dessa decisão. No Brasil, 31% dos casos de gravidez terminam em aborto. O motivo que leva as mulheres a decidir pela interrupção da gravidez é sempre justificado por achar que aquilo é o melhor para o momento.

Outras, ainda alegam que não desejam ou não podem ter a criança, pela precariedade de sua situação pessoal ou por sua condição de vida. O fato é que as mulheres que o fazem sentem uma grande tristeza, culpa e, principalmente, remorso. Geralmente, a mulher se sente dessa forma porque ?destruiu? um ser vivo e foi contra seu instinto maternal. Mas ela precisa admitir o fato e aprender a lidar com a culpa que, com certeza, irá sentir.

O aborto é um procedimento negativo, um ato agressivo com reações que fazem ser mais difícil de avaliar e caracterizar o problema. Assim, os efeitos não só terão repercussões contínuas na vida da mulher, como atingirão a vida de cada pessoa à sua volta. É nesse sentido que a mulher se torna sua própria vítima, acarretando impactos significantes na sua personalidade.

Acompanhado por muito sofrimento, o aborto nunca é uma decisão fácil, mas mesmo assim muitas mulheres, na sua maioria adolescentes, optam por fazê-lo. Não esperando ou planejando a gravidez, elas possuem o desejo de ter a criança, só que por pressão de seus pais ou por parte do pai da criança, que em muitas das vezes também é jovem, despreparado e inexperiente para tal responsabilidade, praticam o ato abortivo.

O que acontece é que algumas mulheres reprimem a culpa que sentem, para evitar o sofrimento, podendo vir à tona mais tarde em forma de doenças. Além dos danos físicos, surgem traumas psicológicos como queda da auto-estima pelo ato em si, hostilidade ao marido ou amante e neuroses. Sem contar outros transtornos, como insônia, depressões e perda do desejo sexual.

Estevan Matheus, psicoterapeuta.

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