Exame de vista é exigência para os motoristas

A maioria dos brasileiros com mais de 40 anos utilizam óculos multifocal para corrigir simultaneamente a presbiopia e algum vício de refração – miopia, astigmatismo ou hipermetropia.

Isto é um problema para àqueles que precisam tirar ou renovar a carteira nacional de habilitação (CNH). “É comum pessoas nesta faixa etária motoristas serem encaminhadas ao oftalmologista pelos examinadores, apesar de enxergarem o suficiente para dirigir”, alerta o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto.

Para ele, esta é uma questão social importante, porque acaba tirando do mercado de trabalho motoristas que exercem atividade remunerada.

O último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que 26,7% da população têm idade acima de 40 anos.

Por conta disso o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) estima que 51 milhões de brasileiros têm presbiopia ou vista cansada.

Trata-se da dificuldade de foco para perto, decorrente do envelhecimento do cristalino que acomete todas as pessoas a partir desta idade.

Um levantamento coordenado pelo médico mostra que 48% dos encaminhados ao consultório pelos examinadores usavam lente multifocal e tinham acuidade visual dentro do estabelecido pela legislação.

Os outros 52%, eram pacientes mais jovens com instabilidade de refração que usavam óculos desatualizados e arriscaram passar pelo exame por causa da redução de 60% para 50% na exigência de acuidade visual, prevista pela Resolução 267 do Contran (Conselho Nacional do Trânsito).

Qualidade de vida

É uma prova de que muitos brasileiros ignoram a importância da visão não só para garantir a segurança no trânsito, como a qualidade de vida, já que 85% de nossa integração com o meio ambiente depende de nossa capacidade de enxergar, comenta o médico.

A recomendação do CBO é de que as pessoas que usam óculos devem consultar um oftalmologista a cada 2 anos, independente da idade. A partir dos 40 anos, essa regra vale para todas as pessoas porque podem ocorrer alterações nos olhos que não apresentam sintomas no estágio inicial.

Muitas vezes, notamos que as pessoas de mais idade abandonam as atividades diárias. Um número considerável delas o faz devido a uma perda gradativa da visão.

Essa situação passa a interferir na sua qualidade de vida, causando certas restrições e provocando insegurança. Entender o funcionamento do sistema visual nessa etapa da vida é um tema que deve ganhar maior importância, visto o envelhecimento da população mundial.

Conforme o oftalmologista Osny Sedano, do Hospital de Olhos de Curitiba, a visão também envelhece com a pessoa. “Com a idade, a córnea vai perdendo progressivamente a transparência e o cristalino, que é normalmente transparente, ganha tons amarelados”, explica o especialista.

Neste processo, a retina também passa por desgaste. As terminações nervosas (neurônios) vão se afastando e perdendo a condutividade, resultando em perda da qualidade visual. “É como o tubo de um aparelho de televisão que vai ficando velho”, ilustra o médico.

Catarata

Queiroz Neto lembra que todos os vícios de refração diminuem a visão de contraste e esta pode ser melhorada com lentes polarizadas ou na cor âmbar no crepúsculo do entardecer. Para reduzir o ofuscamento noturno a dica é usar lente amarela.

As lentes corretivas fotossensíveis são as indicadas para dirigir contra o sol por protegerem os olhos da radiação ultravioleta, enquanto as que têm tratamento anti-reflexo melhoram a visão em até 30% comparadas às lentes sem tratamento.

O equipamento utilizado no exame oftálmico da CNH também mede a percepção de profundidade, de cores e contraste, ofuscamento noturno, campo visual, além da acuidade auditiva.

Queiroz Neto ressalta que o teste de ofuscamento pode indicar catarata em estágio inicial para maiores de 55 anos. Para quem exerce atividade remunerada pode significar a diferença entre ser eliminado do mercado de trabalho e se manter ativo. “A legisl,ação exige melhor visão desses motoristas que por isso geralmente operam a catarata em estágio inicial”, comenta.

A recomendação aos motoristas que precisam dirigir à noite é implantar a última geração de lentes intra-oculares que além de corrigir a visão de perto, meia distância e de longe tem capacidade adicional de regular a quantidade de luz que chega à retina.

Por isso garante uma segurança extra no trânsito, observa. A prova disso, ressalta, é que uma pesquisa feita na Universidade de Alabama mostra que a cirurgia de catarata além de recuperara a autonomia das pessoas reduz em 50% o risco de acidentes no trânsito.