Estresse é a atual doença da pressa

Falta de tempo é o grande vilão do mundo moderno. O corre-corre diário, a competitividade no trabalho, o excesso de compromissos e a necessidade de produzir mais em menos tempo criaram a impressão de que o dia ficou curto para tantos afazeres.

Embora continue tendo o mesmo número que sempre teve. O que mudou foi a maneira de entender o tempo, que trouxe a pressa como ritmo da vida. Cerca de 70% dos brasileiros economicamente ativos sofrem com o estresse mal administrado.

O grande desafio da década é a redução dos altos níveis de tensão, além de lidar de maneira mais eficiente com a quantidade de horas trabalhadas – atualmente são 52 horas por semana, mas deve chegar a 54 nos próximos anos.

Pesquisa realizada pela International Stress Management Association do Brasil (ISMA-BR), associação internacional com sede em 12 países com o objetivo de prevenir e tratar o estresse, revela as consequências de se manter um estilo de vida excessivamente acelerado, distúrbio conhecido nos Estados Unidos por hurry sickness ou doença da pressa. Foram entrevistados mil profissionais brasileiros (homens e mulheres), com idade variando de 25 a 65 anos, ativos no mercado de trabalho.

A conclusão é de que 30% das pessoas entrevistadas sofriam da doença, sendo que 8% já tinham percebido o problema e diminuíram o ritmo de trabalho e 13% demonstraram grande interesse em “puxar o freio de mão”, mas alegaram estar em busca de outras alternativas. O profissional com a doença da pressa apresenta sintomas físicos, emocionais e comportamentais.

“O ritmo das ocupações que os homens impõem a si mesmos é a principal causa de transformar o tempo em ‘falta’ de tempo”, afirma a presidente da entidade Ana Maria Rossi. Para ela, o segredo está em criar estratégias, de maneira a conciliar os âmbitos profissional e pessoal, para preservar a qualidade de vida.

Comprometimento da saúde

Entre os sintomas físicos, os entrevistados alegam dores musculares, cansaço, insônia, azia e hipertensão. Como consequências emocionais, foram ressaltados o aumento na ansiedade, a angústia, a falta de concentração, a raiva e a falta de memória.

Quanto às mudanças comportamentais, foram apontados o aumento no uso de medicamentos, no consumo de álcool, e no apetite, além de uma redução da libido e maior incidência de acidentes de trânsito.

“Até certo ponto o estresse pode ser benéfico e conduzir a pessoa a alcançar metas importantes no trabalho e na vida pessoal”, reconhece a endocrinologista Ellen Paiva.

Ocorre que, na maioria das vezes, logo o organismo se reequilibra sem comprometer a saúde física e mental. Quando a “resposta” do organismo não consegue manter este equilíbrio, as consequências podem, de maneira geral, gerar um estado de fragilidade que leva às mais diversas doenças.

No entender da médica, o estresse faz parte da vida, mas a sensação de descontrole é sempre prejudicial. Se algo o incomoda seriamente e a pessoa pensa que não consegue controlá-lo, o melhor a fazer é tentar evitá-lo.

De acordo coma psicóloga clínica Lucia Novaes, algumas sugestões podem ser bastante úteis se a pessoa deseja se prevenir ou tratar a síndrome da pressa. Primeiramente, é fundamental que a pessoa tenha consciência de que apresenta esse estilo de viver e decida se quer mudar mesmo, buscando identificar seus objetivos de vida. A partir daí, mostram-se úteis a realização de técnicas de relaxamento diariamente.

Também é necessário que a pessoa comece a compreender seus limites, faça novas amizades, converse sobre assuntos não relacionados ao seu trabalho diariamente. “Delegar tarefas e investir no seu crescimento pessoal e não só em seu crescimento profissional é um bom caminho”, completa a terapeuta.