Endometriose afete mulheres em idade reprodutiva

Uma das principais causas da infertilidade feminina na atualidade, a endometriose afeta de 6% a 10% das mulheres em idade reprodutiva e está, em grande parte, ligada ao estresse e a conflitos emocionais característicos da vida moderna, principalmente, o adiamento da gravidez.

Fonte de dúvidas e anseios, a doença é séria e merece atenção, mas o pânico em torno de alguns mitos criados, na opinião de especialistas, muitas vezes, é desnecessário.

Sobre as causas do distúrbio, há diversas teorias, mas a principal delas é que, durante a menstruação, células do endométrio – tecido que reveste a cavidade uterina – sejam enviadas pelas trompas para dentro do abdome, realizando uma espécie de caminho inverso. A presença dessas células estranhas no interior da pélvis provoca inflamação, formação de novos vasos sanguíneos, fibrose e distorção anatômica. É o cenário da endometriose. Também há evidências sobre a existência de fatores genéticos no desenvolvimento da doença, por isso, mulheres que possuam casos na família devem redobrar a atenção.

Além da infertilidade, outro importante sintoma da endometriose é a dor, que pode se manifestar, como cólicas menstruais intensas, dores abdominal ligadas ou não às relações sexuais (50% a 60% das mulheres afetadas registram tal sintoma), dores no intestino no período menstrual ou mesmo uma mistura de todas as mencionadas. Os sintomas podem surgir de forma intermitente ou contínua, em qualquer fase do ciclo menstrual. “Tendo em vista o fato de a dor forte ser um sintoma importante, também associada a luxos menstruais muito intensos, há que se atentar para tais suspeitas e procurar o ginecologista para acompanhamento”, reforça o obstetra Roberto Tasselli.

Resistência a medicamentos

Teorias atuais mostram que a doença pode surgir no peritônio da região pélvica, nos ovários e no septo existente entre a vagina e o reto. Para todos os casos, o diagnóstico pode ser feito por meio de ultrassonografia vaginal ou de ressonância magnética da pélvis, mas para confirmá-lo em definitivo a cirurgia se faz necessária. A técnica mais usada é a laparoscopia, que permite não apenas visualizar como retirar ou eliminar as lesões com laser ou outros métodos.

A doença é recorrente entre as mulheres porque além de causar dor durante a relação sexual, alterações intestinais durante a menstruação – como diarréia ou dor para evacuar. Como as cólicas menstruais são ocorrências habituais na vida da mulher, é recomendado que a investigação das causas das dores deve ser feita quando elas apresentarem resistência ao uso de medicamentos. “Quando as dores incapacitam a mulher de exercer suas atividades normalmente, pode levar à suspeita de que a doença esteja instalada”, explica o ginecologista Joji Ueno .

Gestação possível

Ainda assim, o tratamento clínico da endometriose – que difere conforme o tipo da doença – pode ser iniciado mesmo na ausência da confirmação cirúrgica. Normalmente, os especialistas optam pela associação entre anti-inflamatórios e pílula anticoncepcional de forma contínua, com o objetivo de suspender o sangramento mensal e, assim, buscar possível atrofia do tecido ectópico. Alguns tratamentos preconizam bloqueios hormonais, levando as pacientes para um quadro menopáusico temporário. “Para o diagnóstico de suspeita da endometriose, o exame ginecológico se faz essencial, ou seja, esse é mais um motivo para visitar o ginecologista com frequência mínima de um ano”, afirma o obstetra Mauricy Bonaparte.

Os especialistas explicam que os tratamentos disponíveis apresentam resultados satisfatórios e que a endometriose, quando tratada, não é um impeditivo da gestação. “Esse é o principal mito que gravita em torno da doença atualmente e que precisa ser desfeito”, complementa Tasselli.

Vale ressaltar, inclusive, que uma das opções de tratamento da endometriose é a própria gravidez, uma vez que serão, apr,oximadamente, 14 meses sem menstruação, somados a altas doses de progesterona, produzidas pelo próprio organismo materno e à atrofia de todas as células endometriais em locais indesejados.

RETRANCA

O primeiro estudo mundial sobre o impacto social da endometriose revelou uma significativa perda de produtividade no trabalho entre as mulheres que sofrem com a doença. Os resultados da pesquisa foram apresentados durante a 26.ª reunião anual da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, realizada em Roma, no mês de junho.

Coordenados por Kelechi Nnoaham, da Universidade de Oxford, Reino Unido, pesquisadores recrutaram 1.459 mulheres, com idades entre 18 e 45 anos, de dez países, nos cinco continentes, para participarem do Estudo Global de Saúde da Mulher. Todas fizeram uma laparoscopia, devido aos sintomas sugestivos de endometriose. Além do exame, preencheram um questionário detalhado sobre os sintomas que sentiam e o impacto que eles provocavam em suas vidas, já que é de conhecimento que mulheres com dores pélvicas crônicas apresentam uma menor qualidade de vida.

“A perda da produtividade no trabalho entre as mulheres com endometriose representa, em média, dez horas por semana, contra sete horas, em comparação a outras mulheres, que participaram do estudo e apresentavam outras doenças”, ressaltou o coordenador. Outras atividades não relacionadas ao trabalho, tais como serviços domésticos, exercícios, estudos, fazer compras e o cuidar de crianças também foram significativamente afetadas pelos sintomas dolorosos da doença.

Os pesquisadores também observaram um atraso no diagnóstico da doença de pelo menos sete anos, período em que as mulheres relataram pela primeira vez aos seus médicos os sintomas, até que eles confirmassem o diagnóstico da doença.