Embolia pulmonar é uma doença silenciosa

“Segundo os médicos, foi milagre de Deus. Tenho uma nova data de nascimento, ninguém entende como estou vivo. Já estou na semi-intensiva”, disse Léo Jancu, de 29 anos, em mensagem pelo twitter.

O participante da nona edição do Big Brother Brasil passou um susto, longe das câmeras, no dia 28 de março quando foi internado no Hospital Samaritano, em São Paulo, vítima de embolia pulmonar, doença potencialmente letal que pode acometer os mais variados perfis de pacientes.

Na maioria das vezes, o processo é tão intenso que não a tempo da pessoa ser socorrida. Os médicos que atenderam o ex-BBB investigam se a causa da embolia é hereditária, dentre outras possibilidades.

Consequência grave da trombose venosa, a embolia pulmonar ocorre quando fragmentos de coágulos (trombos) formados nas veias, sobretudo nas dos membros inferiores (85% dos casos), se desprendem e migram pela circulação até os pulmões, “entupindo” os vasos pulmonares e impedindo a perfeita oxigenação do organismo.

Embora a embolia pulmonar seja quase sempre vista como um risco acentuado em pacientes submetidos a cirurgias de médio e grande portes, como as realizadas para substituição de articulações do joelho ou do quadril, em pacientes acamados por doenças clínicas, como derrames, infartos do miocárdio, tumores malignos e em pacientes internados em UTIs, a doença, conforme o cirurgião vascular Erasmo Simão da Silva, não é exclusividade de pessoas com afecções graves.

Complexa e silenciosa

“A coagulação do sangue dentro dos vasos, associada ao desenvolvimento da embolia pode ocorrer como consequência de fatores comuns, como obesidade, gestação, varizes, histórico anterior de trombose, uso de anticoncepcionais orais, reposição hormonal e tabagismo, entre outros”, explica o médico. Essas condições podem representar um risco para o paciente, pois aumentam a predisposição ao problema.

Entre a população, muitas vezes é tratada com desprezo ou desconhecimento, já que existe prevenção e, até mesmo, nos vôos mais longos, as companhias passam algumas orientações para que a pessoa não corra o risco de sofrer o transtorno durante a viagem.

O angiologista e cirurgião vascular Júlio Siqueira explica que a doença se caracteriza por ser complexa e silenciosa, podendo trazer sérias consequências quando não tratada de forma rápida e adequada. “O tromboembolismo pode acontecer em diversas ocasiões, devido, geralmente, a longos períodos de imobilidade”, esclarece.

Assim, pode ocorrer tanto em viagens longas (por qualquer meio de transporte) quanto em pacientes que passam longos períodos acamados. De acordo com o especialista, o tratamento preventivo da trombose, com o uso de medicamentos, especificamente desenvolvidos para essa condição, é crucial para proteger pacientes com risco potencial de desenvolver a trombose venosa e a embolia pulmonar.

Radiologista intervencionista

Os passageiros da classe econômica de vôos internacionais estão no grupo de risco para a doença. “Estima-se que de 3% a 10% dos viajantes que apresentam os fatores de risco possam ser vítimas de uma embolia pulmonar”, afirma Alexander Ramajo Corvello, radiologista intervencionista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (Sobrice), salientando que é possível evitar o problema com o diagnóstico e tratamento adequados.

Conhecida como especialidade médica dos tratamentos minimamente invasivos, a radiologia intervencionista é uma das principais aliadas na investigação e tratamento da embolia pulmonar.

“Através do cateterismo das artérias pulmonares é possível injetar medicações capazes de dissolver os coágulos e também, usando cateteres especiais pode-se também quebrar, aspirar e destruir mecanicamente os trombos”, afirma o especialista. Este procedimento, é conhecido no meio médico como trombectomia mecânica.

A maioria dos procedimentos é realizada com anestesia local, um pequeno corte na pele do paciente e com tempo menor e menos dolorido no pós-operatório. “Por ser pouco agressivo, os procedimentos minimamente invasivos podem ser aplicados em pacientes graves e que, normalmente, não suportariam o tratamento convencional”, ressalta Corvello.

Causas que predispõem à formação de coágulos

* Idade acima de 40 anos
* Histórico familiar ou pessoal de doenças circulatórias
* Recuperação hospitalar prolongada
* Cirurgia ou trauma de grande porte
* Distúrbios sanguíneos
* Fratura de quadril ou da perna
* Doenças graves, como câncer, infarto ou AVC
* Obesidade e tabagismo
* Gravidez

Opção terapêutica

A radiologia intervencionista baseia-se em procedimentos minimamente invasivos, guiados por métodos de imagem, com finalidade diagnóstica e/ou terapêutica. Os procedimentos pertinentes à especialidade são bastante amplos. A maioria das intervenções utiliza por base as técnicas de cateterismo. De modo simplificado, através da punção de um vaso (artéria ou veia), obtém-se acesso ao espaço intravascular e, por meio de cateteres e guias pode-se navegar de forma endovascular e atingir praticamente qualquer segmento do corpo.

Uma vez atingido o local desejado, o especialista dispõe de inúmeras opções terapêuticas. Podem-se abrir vasos ocluídos através de medicações, balões, e stents, entre outras opções. Inversamente, vasos podem ser ocluídos temporária ou permanentemente, por meio do cateter, interrompendo hemorragias ou eliminando a alimentação de tumores vascularizados. Também os aneurismas, cerebrais e da aorta, podem ser tratados de forma pouco invasiva por meio de cateterismo, evitando cirurgias convencionais de grande porte.