Cresce o uso de cavalos em exercício terapêutico

Trabalhar o desenvolvimento de crianças e adultos, portadores de determinados tipos de deficiências físicas e mentais, por meio de exercícios de fisioterapia realizados com o auxílio de cavalos é uma prática cada vez mais utilizada no mundo. A Equoterapia, como é chamada, surgiu nos anos 50, na Noruega. Chegou ao Brasil no início da década de 90, pelo Estado de São Paulo e, atualmente, está presente em diversas regiões do País.

Na capital paranaense, o Centro de Equoterapia Curitiba vem desenvolvendo trabalhos com pacientes e cavalos desde 1994 e atende pessoas com idades a partir de dois anos. “Os exercícios de fisioterapia feitos com o auxílio do cavalo são muito benéficos para portadores de paralisia cerebral, síndrome de Down, autismo, hiperatividade, deficiências motoras e cognitivas”, revela a fisioterapeuta e responsável pelo Centro, Cleunice Siqueira Rodrigues.

No início, muitos dos pacientes que se submetem à equoterapia costumam demonstrar um pouco de medo dos cavalos. Assim, geralmente o início do tratamento tem como objetivo desenvolver a confiança da criança ou do adulto no animal. Para isso, são desenvolvidas brincadeiras nas quais as pessoas são convidadas a alimentar e escovar os cavalos.

Quando o paciente adquire uma maior intimidade com o animal e sente confiança para montar, são iniciados exercícios de relaxamento, alongamento e fortalecimento muscular em cima do cavalo. Na maioria dos casos, os pacientes não montam sozinhos. São auxiliados por uma pessoa que conduz o cavalo, por uma ou duas pessoas que permanecem nas laterais ou mesmo por um profissional que também realiza seus trabalhos montado.

“O cavalo tem um passo e um desvio de anca muito parecido com o do ser humano”, explica a fisioterapeuta. “Ele anda em diagonal e produz movimentos tridimensionais que se reproduzem em quem está montado. A passada provoca reações automáticas de equilíbrio e retificação do tronco em quem está em cima do animal. Estimula a dissociação do quadril, contribuindo para que a musculatura da pessoa se fortaleça e, ao longo do tempo, para que ela possa conseguir ficar em pé e andar.”

Crianças

Com as crianças, são desenvolvidas atividades lúdicas, que estimulam à fantasia, desenvolvem a autonomia e a autoconfiança. “Em sessões de fisioterapia comuns, muitas vezes a criança se sente desestimulada pois é incentivada a fazer movimentos repetitivos e cansativos”, explica Cleunice. “Com os cavalos, ela se exercita através de brincadeiras. Desenvolve carinho pelo animal e tem contato com a natureza. Na cabeça dela, ela não está fazendo um tratamento, mas passeando de cavalo.”

A pequena Edilaine de Barros, de 2 anos e 10 meses de idade, começou a se submeter à equoterapia em setembro do ano passado. Ela nasceu prematura e sempre apresentou problemas de desenvolvimento motor. Depois que iniciou o tratamento com os cavalos, começou a ter maior controle do corpo, a sentar, a andar se apoiando em móveis e, atualmente, a engatinhar. “Nestes últimos meses, a evolução dela foi bastante rápida e surpreendente”, revela a irmã de Edilaine, Elaine de Barros. “Antes de iniciar a equoterapia, ela passava muito tempo deitada e tinha uma série de problemas motores. Hoje, ela tem um vínculo tão forte com os cavalos que até reclama quando não pode estar presente às sessões de equoterapia.”

Os cavalos utilizados nos tratamentos são de raças bastante variadas. São escolhidos pelas características da passada, pelo tamanho e pela docilidade. Antes de montar, o paciente passa por uma avaliação prévia para saber a que tipo de exercícios deve ser submetido e também para que o tipo de solo onde o cavalo vai andar seja escolhido. O tratamento tem o acompanhamento de terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e instrutores de equitação.

No Brasil, ainda não existe curso de formação de equoterapeutas. Os terapeutas que querem se especializar na prática acabam tendo que ir estudar fora do país. Cleunice Rodrigues participou de um curso de formação na Itália. Em Brasília (DF) está localizada a Associação Nacional de Equoterapia.

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