Otimismo e consciência marcam O Dia do Turismo

Sábado foi comemorado o Dia Internacional do Turismo. Depois de dois anos dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos, o setor ainda sente as conseqüências do maior episódio terrorista de todos os tempos. No Brasil, companhias aéreas entraram em crise e até foram levadas à falência, agências de viagem e operadoras fecharam suas portas e outras reduziram seus quadros de funcionários, hotéis amargaram baixas ocupações. Neste mês em que se comemora o dia internacional do setor e também em que se completa dois anos da tragédia ocorrida em Nova York e Washington, o setor paranaense tenta respirar e arregaçar as mangas para tentar construir um novo cenário.

O fôlego é dado também por uma nova política para o setor, criada pelo governo federal e norteada pelo Plano Nacional do Turismo, um projeto que traz metas ousadas para os próximos quatro anos. Gerar 1,2 milhão de empregos, aumentar para nove milhões o número de estrangeiros no Brasil, gerar US$ 8 bilhões em divisas, aumentar para 65 milhões o desembarque de passageiros nos vôos domésticos e ampliar em 30% a oferta de produtos turísticos para comercialização são as cinco metas estabelecidas.

No Paraná, o trade está otimista, porém, sem perder a consciência de que as coisas têm que sair do papel e começar a funcionar. O presidente da Abih-PR (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Seção Paraná), Hercílio Struck, se mostra confiante. “O turismo está, felizmente, em uma fase de crescimento e estamos com uma boa expectativa já que o ministro Walfrido dos Mares Guia é uma pessoa bastante ativa”, comenta.

Também em âmbito estadual, Struck acha que o setor deve dar um salto, já que o trade vem trabalhando em ritmo acelerado para tomar o espaço que há muito deveria ocupar. Porém, ele destaca a falta de divulgação dos atrativos turísticos brasileiros como um dos principais entraves para o desenvolvimento do turismo. “Falta um trabalho de venda, de divulgação externa, para isso a Embratur precisa marcar presença lá fora”, disse. “Ainda perdemos eventos para países como o México, por exemplo”, complementou.

Ele comentou também que a falta de infra-estrutura também impede a captação de turistas para os destinos. “Curitiba, por exemplo, tem uma ótima infra-estrutura hoteleira, mas tem deficiência na área de eventos. O Centro de Convenções está morto e o Estação Plaza (Estação Convention, que será inaugurado no ano que vem) não vai resolver tudo”, afirmou.

A Abih-PR propôs ao governo uma gestão compartilhada do Centro de Convenções por pessoas do trade turístico paranaense, a fim de atrair novos eventos para a capital paranaense, atendendo às necessidades da hotelaria.

Sem depressão

Joel Duarte, presidente da Abav-PR (Associação Brasileira de Agências de Viagens – Seção Paraná), diz que o momento é de “mais ação e menos depressão”. “Há 24 meses nós fomos tomados por uma espiral de acontecimentos que nos colocou para baixo: companhias áreas desapareceram, fusões que nunca se imaginava aconteceram, crise violenta na Argentina, terrorismo, cada vez menos investimentos na área turística por medo de falta de demanda, desemprego e fechamento de agências; tudo isso criou uma situação de pessimismo exagerado”, comentou, referindo-se aos ataques terroristas nos EUA. “Agora é hora de nós arregaçarmos as mangas e buscarmos soluções.”

A criatividade pode ser a arma contra a crise. Joel acredita que o setor deve buscar novos destinos. “Se está difícil mandar nossos passageiros para os Estados Unidos por causa da burocracia imposta na questão dos vistos, vamos mandá-los para países da América do Sul, para os diversos destinos brasileiros, temos aqui tanta coisa bonita para se ver”, propôs.

A esperança é que esse Dia do Turismo seja um divisor de águas para um momento melhor. “Depois dessa reflexão, nós vemos o contraponto dessa situação ruim que se criou, que é o fato de o turismo ser uma indústria da paz, que promove o encontro de povos e a aproximação das culturas. É isso que temos que pensar e agir”, considera Joel.

Oportunidade

Comentando as conseqüências dos ataques terroristas nos Estados Unidos, o presidente do Curitiba Convention & Visitors Bureau (CC&VB), Marco Antônio Fatuch, diz que o momento é oportuno para o Brasil conhecer o Brasil. “O 11 de setembro fez os Estados Unidos fecharem suas portas e, para o Brasil, que era um mercado extremamente exportador para a Europa e Estados Unidos, foi uma forma de fazer o turista se voltar para as belezas do próprio País”, disse Fatuch. “O Nordeste está sendo extremamente visitado pelos brasileiros, o que é ótimo porque suas belezas naturais são muito maiores do que qualquer outro país.”

Em relação ao Dia Internacional do Turismo, Fatuch não comemora a data com tanto entusiasmo. “Vemos esse dia com tristeza porque o setor está sendo deixado de lado – as autoridades federais, estaduais e municipais não estão dando a devida atenção à indústria do turismo, que responde a qualquer investimento imediatamente na questão de mão-de-obra”, afirmou.

Ele também concorda que um dos obstáculos para o desenvolvimento do setor é a falta de divulgação do Brasil como destino turístico. “Somos infinitamente menores em verbas do que muitos países na divulgação turística. A República Dominicana, por exemplo, investe muito mais em vender sua imagem do que o Brasil”, comentou.

Para o presidente do CC&VB, outro fator que deve ser repensado para atingir o objetivo de atrair mais estrangeiros para o País é em relação aos portões de entrada, que hoje são basicamente São Paulo e Rio de Janeiro. Hoje, o turista europeu, por exemplo, que vem ao País sabe que terá que enfrentar uma viagem de doze horas de avião.

Fatuch considera Natal (RN) e Recife (PE) portões de estrada muito mais interessantes e estratégicos na recepção desses turistas. “Uma viagem de Lisboa a Natal leva só quatro horas”, exemplificou. Vender essa idéia facilitaria a vinda de europeus que desembarcariam no Nordeste e depois partiriam para os outros destinos brasileiros em vôos diferentes. “Mesmo que de Natal ele vá para São Paulo ou Foz do Iguaçu, por exemplo, no seu subconsciente, ele fez uma viagem de quatro e não de doze horas”, explicou.

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